Cruz
das Almas
Dulce Azevedo
Cruz das Almas, vilarejo
arborizado localizado a 100 km de São Paulo. Apesar da pequena distância vivia
desconectado do resto da região. Não precisavam de outro tipo de conexão, pois
tinham como fio condutor Zé do Rumo, extremamente boa pinta, moço bonito bem
afeiçoado que do alto dos 1,80mts de altura apreciava tudo. Favorecido pela sua
estrutura óssea distribuía simetricamente dentro de sua capa, de diversos
bolsos, todos os cacarecos a serem vendidos, pois essa era a sua profissão. Um
dom que foi descoberto ainda na infância quando sua mãe pedia-lhe algo e ele
logo atendia mediante uma troca de seja ela um favor ou objeto.
Zé do Rumo sabia ”vender seu peixe”: O radinho
era uma beleza e vinha diretamente da China onde o povo trabalhava pra Burro e
não via a cor do dinheiro. O batom argentino, terra do chimarrão (infusão de
ervas em água quente). O perfume Paraguaio país latino cujos produtos tinham
procedência duvidosa (omitia o fato de ser alterado). Depois ofereceu a lanterna
mágica que funcionava sem pilha e sem eletricidade era movida a bobina. Fantástica!
- dizia.
E assim passávamos os dias
aprendendo geografia, novidades e costumes oferecidos pelos países por ele
descritos.
Certo dia um raio caiu em Cruz das Almas
destacando-se de tudo no meio da praça. E com um frescor que a juventude lhe
oferecia João, estrategista nato, era capaz de induzir uma compra através de
rimas improvisadas. Zé do Rumo apesar de
macaco velho sentiu que a raposa nova lhe daria muito trabalho, teria
que se reinventar pois a freguesia seria disputada à unhas e dentes, pondo em
risco a fidelidade de sua freguesia. Foi para casa e separou as novidades de
acordo com a idade e interesse dos seus clientes assim facilitaria sua
abordagem e daria certa vantagem sobre o novato.
O duelo foi iniciado com
João oferecendo toalhas de mesa impermeáveis com diversas vantagens e usos incansáveis
deixando para Zé as ofertas das xícaras
descartáveis que eram formidáveis. O novato prosseguiu com a Água Benta que só
de usar afugenta e Zé ofereceu o crucifixo que para rezar não havia sacrifício
e por aí foram comercializando todos os produtos. No final Zé contabilizou a
sua tarde e verificou que foi magnífica a disputa, pois nuca tinha vendido
tanto, mas notou a satisfação imensa do novato que não parava de contar o
dinheiro sendo que o seu já tinha contado fazia tempo. Foi embora chateado
porque o João tinha vendido muito mais que ele. João foi embora muito
satisfeito prometendo grandes novidades para o próximo mês.
Porém o inesperado
aconteceu caiu numa emboscada e levaram todo o dinheiro que ganhou. O novato
ficou apavorado e prometeu nunca mais voltar a Cruz das Almas porque ela não trouxe
bons fluidos para ele. Já o Zé ficou satisfeitíssimo, pois o seu emprego estava
salvo...
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