Amor
em Portofino
Vera Lambiasi
Cristina descia os caminhos de
pedras ao encontro do seu marujo na prainha.
Pedro atracara a traineira, e
começara a limpeza com baldes e panos.
Dias de sal e cansaço, nem tinha notado
o pôr-do-sol que tingia a baía.
Ela, trabalhara semanas no hotel de veraneio, a espera do pescador. A promessa de casamento a fizera render os dias, um por um.
A costa estava repleta de turistas,
e a venda dos crustáceos era certa naquela mesma noite. Teria o rapaz um bom
lucro para gastar.
Cristina, faceira, corria o cais,
cabelos longos distribuindo aroma de jasmim.
Pedro, corroído de sol, nem notara a
aproximação. Pensava em negócios.
A chegada da moça foi em grande
performance, aos gritos a beira-mar.
A recepção, morna, aos olhos de Cristina.
Queria abraços e beijos.
Pedro, só vender logo sua
mercadoria. Ansiava por banho, comida e cama.
Cumprimentaram-se de longe, e
partiram lado a lado, carregados de isopores.
Cristina, gargalhando, contando suas
trapalhadas com os hóspedes.
Pedro, taciturno, lembrando o
balanço das ondas.
Acabada a entrega, partiram para a
casinha amarela de Pedro no alto da colina.
Lá, amaram-se loucamente, como
ansiava Cristina.
Na manhã seguinte, saiu Pedro
sorrateiro, de volta ao Golfo de Gênova.
Na cozinha, ainda suja, o bilhete:
— “Desculpe, Signorina, mas sou do
mar.”
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