NADA MUDOU
Dulce Azevedo
— Alô, quem fala?
— Não está reconhecendo minha voz?
— Não, não estou
— Estudei com você.
— Comigo?
— É com você
— Mas, estudou onde?
— Ah! Não se lembra que
fizemos o ginásio juntos e nós éramos do time de futebol da escola?
— Quem tá falando?
— Vou te dar umas dicas; eu
era a referência para todas as piadas fossem elas sobre gordos, morenos, pintados
em qualquer situação era o personagem da estória.
— Seja mais claro, porque
na infância todos nós gostávamos de perturbar uns aos outros. Eu fui diversas
vezes motivo de chacota. Você tinha apelido?
— Vários?
— Jogava em qual posição?
— Comecei como atacante, fui
para a lateral direita e logo substituí o goleiro e nuca mais sai dessa
posição.
— Mas era bom no gol?
— Ôpa! Era o melhor não
tinha pra ninguém.
— Você era bem humorado?
— Era, mas estava sempre
tenso porque qualquer falha já era motivo de piada.
— Bom, agora ficou mais
fácil, pois um time de futebol é composto por 11 jogadores e 2 goleiros e se você
era um bom goleiro só pode ser o JOÃO BOI!!
— Sim, acertou. Sou eu
mesmo.
— Poxa, se você não me
desse tantas dicas ficaria aqui horas para descobrir sua identidade. O que
deseja? Você está bem?
— Estou muito bem, obrigado.
Não desejo nada. Achei o seu telefone na agenda e por curiosidade resolvi ligar
para verificar se sua memória continuava boa. Até logo Pedro. Tenha um bom dia.
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