A adivinhatriz - Vera Lambiasi


A Adivinhatriz                                                                                      Vera Lambiasi



Era uma vez uma rainha egípcia chamada Madalena.
(Isso é nome de nobre nascida a beira do Nilo?)

Tinha sonhos premonitórios de soluções de problemas.

A coisa era bem simples. Dormia com a preocupação, acordava com a resolução.

Dizia sonhar com os ancestrais falecidos, que lhes abriam os olhos no meio da noite.
(Devia ser assustador, múmias esgueirando das pirâmides, cutucando-a).

Ninguém acreditava, mas ela apontava o que devia ser feito com riqueza de detalhes.

Certa vez, recitou parágrafo, inciso e alínea, de um documento que carecia de acertos. Feito o adendo, negócio fechado. (Mais uma irrigação nas margens do rio?).

Foram ficando notórias suas visões, consultas constantes começaram a pipocar.

Fazia com gosto para a família, embora fossem quase todos céticos.

O crente da vez dava-se por satisfeito, e ponto.

Dos sonhos, Madalena herdou uma boa intuição, acordada mesmo.
Dizia do recém-chegado, este cara não presta. O tempo mostrava que era verdade, apesar dos protestos iniciais.

Foi ficando com uma personalidade tão franca, que já a colocava em má reputação.

Consultada, nunca mentia. Não havia equívoco para ela, cheia de si.

Tinha um insight, matutava um pouco, fazia suas pesquisas, amadurecia a ideia. E pimba! Acertava em cheio.

Até que apareceu em seus domínios um senhor muito rico, querendo comprar seus pensamentos.

Ela faria as previsões, ele investiria, e dividiriam os lucros.

A tentação foi grande. O dinheiro era bom, e ela poderia ter tudo o que a deixaria em paz. (Camelos, cobras, tiaras, uvas?)

Não haveria envolvimento emocional, apenas business.

Começou tentando sonhar com o problema dado pelo chefe, como nos velhos tempos.

Seus pais, tão presentes em suas passadas noites, agora jaziam como verdadeiramente mortos.

Acordava nula de soluções.

A intuição diurna tampouco funcionava.

A ganância a levava a mundos longínquos. (Roma, talvez...)
Quanto mais insistia o magnata, menor vontade criativa tinha seu cérebro.

E não é que parou?

Madalena teve um colapso.

Medicada, voltou a si, mas de nada se lembrava.

Maltratou o ricaço, que a julgou pirada, desistindo de suas adivinhações.

Sozinha em seu castelo, Madalena voltou a sonhar.

E na visão dos falecidos, percebeu:

Sem amor, não rolava.

Voltou aos serviços domésticos.

(Mas não era uma rainha?)

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