Adolescência - Flavia Smith



ADOLESCÊNCIA
Flávia Smith
O outono estava prestes a chegar. Com ele, as folhas amareladas das árvores, iam substituindo as flores por nuances que espaçavam do amarelo ao avermelhado. As ruas iam se revestindo deste tapete multicolor e intrigante.
Com a sua chegada as aulas recomeçavam deixando para trás  o  sempre tão  impacientemente aguardado verão. Os estudantes já com suas novas  mochilas a postos  iam recheando-as com  lápis, canetas, livros e  cadernos para retornar àquela entediante, mas ao mesmo tempo, excitante rotina.
Júlia, assim como tantas outras garotas, iria iniciar o seu sexto ano escolar, mas este verão tinha – se manifestado com todos os sinais de uma pré- adolescência: rosto salpicado de acnes carmim, seios querendo aflorar,  mas ainda a espera de um próximo outono para se amoldarem aos muitos centímetros de altura que tinha adquirido nas férias, dentes esperando  serem desacavalados por braquetes coloridos.  Sentia-se desengonçada e acanhada.
A meninada ao chegar ao pátio da escola reconhecia-se, abraçava-se, contava freneticamente os mais belos momentos de suas férias,  cada um parecia ter sido mais divertido  do que o do outro. Quantas aventuras! Quanta magia ecoava de mais aquele deslumbrante verão...Mas, não para Júlia!
Júlia sentia-se constrangida, adensando em  seu peito e cabeça as nuvens da  inveja  e  do ciúmes. Ela nada tinha para contar e ainda por cima seu aspecto físico havia se transformado para pior.
 As mais belas da escola eram sempre convidadas para as festas que animavam o ano letivo. Os garotos mais velhos iniciavam a procurar aquelas que já haviam transformado harmonicamente seus corpos e esgueiravam-se sorrateiramente com elas pelos pátios mão na mão.
Júlia, recolhida em si mesma, olhava para tudo aquilo como se jamais sensações tão doces e excitantes pudessem fazer algum dia  parte da sua tão desastrosa vida. E para piorar esta crença apaixonou-se justamente por aquele moleque cativante que se sentava  na classe ao seu lado, mas que nem tomava conhecimento da presença da mal proporcionada Júlia.
Mas, como o tempo continua sua caminhada, o verão chegou novamente e com ele as almejadas férias.
Júlia resolve que esta seria a estação de uma sua  nova transformação, mas desta vez   fazendo  com que o sol do verão  penetrasse no seu ser  movendo-a para um seu próprio mundo e não mais apenas para o belo reflexo alheio. Vai  então à parques, lê livros agradáveis, convida amigas para escutar música. Torna-se aos poucos mais afável e comunicativa. A confiança vai instalando-se e expulsando a hesitação.
E é exatamente com este sentimento que volta à escola no outono seguinte.  As acnes tinham dado lugar a uma delicada pele rosada, os seios já mostravam suas curvas harmônicas e proporcionais, os dentes vestidos com braquetes coloridos lhe proporcionavam um sorriso multicolor, mas contagiante.

Aquela garota, um dia acabrunhada,  entende então que tudo pode ser transformado e que, em alguns momentos, é só deixar o tempo  cumprir a sua parte, e em outros  que o bom humor, a  paciência e a dedicação modificam o rumo de uma história aparentemente imutável.

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