COM AMOR É MAIS CARO
Oswaldo U. Lopes
Era uma casa, só que diferentemente
da canção ela tinha cozinha, sala, banheiro e quartos muitos quartos. Dona Leia
era a cafetina, ou em palavras mais sutis, era dona do bordel.
Já
estava nessa vida há muito, muito tempo, já tinha ganho muito dinheiro e vira muitas moçoilas passarem pelas
múltiplas paredes. Era enfim o que se podia chamar de prostituta antiga.
A
maioria das moças que estavam ou estiveram a seus cuidados tinham histórias
semelhantes, enganadas por falsos amores, abandonadas pelos pretensos
namorados, renegadas pelas famílias, acabaram ali. Não era difícil ensiná-las a
não se deixar levar pelo amor, sublime amor.
Carmem
era diferente, Dona Leia sentia isso só de olhar. Voluntariosa, altiva, lábios
sensuais e vermelhos, alta de corpo esguio. A sua história era parecida com a
das outras, mais ela a resolvera a sua maneira. Pusera o idiota para correr de
revolver na mão, deu uma banana para a família e se mandou, mas acabou ali
também. História diferente de final igual.
Rafael
era engenheiro de estrada de ferro, responsável pela obra, jovem, mas já de
emprego sólido. Andava com os trilhos. Para ele prostíbulo era prostíbulo e
prostituta era prostituta. Ia lá quando tinha desejo. Cruzou com Carmem um par
de vezes, não reparou que ela se achegava, punha a cabeça no seu ombro etc.
Dona
Leia leu a história de ponta a ponta sem precisar conhecê-la toda. Alertou
Carmem e começou a forçar o rodízio das moças.
Foi
ai que o impossível aconteceu. Não dizem que o desejo antecede o amor? Rafael
começou a só querer ela e ela embarcou no balanço do amor.
Há
prezado leitor dois finais possíveis, um deles é Dona Leia falando:
-
Bem que eu avisei!
O
outro é, os dois indo embora seguindo o
trem, agora o engenheiro tinha esposa e o passado ficara nos trilhos e no apito
longínquo do trem.
(Este
texto foi elaborado a partir do tema amor de uma prostituta proposto em
classe, pela monitora Ana Maria.)
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