ONDE ESTÁ O PERIGO MAIOR
Oswaldo U.
Lopes
Era jovem, impetuoso, cheio de
fé, crente que poderia salvar não o mundo, mas as almas nele contidas e também,
pároco de aldeia.
Traduzindo em miúdos era o padre,
único padre de uma pequena cidade que certamente era maior que uma paróquia,
mas não muito.
Ah! É bom saber tinha 26 anos de
idade, pensava que podia reprimir hormônios com a fé. Ledo engano, diria
Camões.
Ela era bonita, jovem. Elegante e
tinha o andar suave que muitos comparam aos felinos, mas causava sensações, sobretudo
no sexo oposto, que, nunca gato ou onça conseguiriam. Praticante, confessava-se
regularmente coisa que seu marido, o promotor não fazia, envolto em processos e
política. Diziam até que ele descuidava dela, se me entendem...
Quando ela se aproximava do
confessionário, o jovem pároco podia senti-la de longe, o perfume, o andar, as
curvas e o desejo... Dele! As confissões se tornaram mais regulares, frequentes,
e os corpos jovens se aproximavam a um
limite que se podia prever para breve o encontro carnal e o perigo.
Ele alucinado, mal dormia,
tresnoitado todo abatido pensando em encontrá-la, fugir com ela, e no mal que
aquilo causaria nas almas pelas quais se sentia tão responsável.
Havia perto dali uma fabulosa
cachoeira que era conhecida como do Apagão, dizia-se que muitos dela se jogavam
acometidos de um súbito apagão. Ele rezou a missa pela manhã, pediu perdão dos
pecados e saiu caminhando para a cachoeira. Contemplou-a por alguns momentos,
sob a luz de um céu fantástico e saltou.
A mão de Deus acompanhou-o, não para
salva-lo num impressionante milagre, mas para que sua alma fosse naquela mesma
noite dormir no paraíso, como Cristo prometeu a Dimas no momento máximo da
paixão.
Lá no mundo etéreo as coisas não
ocorrem como descreveu Dante. Não há amantes no inferno. A misericórdia divina
é infinita para aqueles que se perderam por amor.
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