O Segredo do Cofre
Vera
Lambiasi
Havia sim um cofre, mas nada de
joias, dólares ou euros.
Só quinquilharias, lembranças de
viagens, selos melados e moedas enferrujadas.
Por isso, permanecia entre o 85 e o
86, a meio ponto de abri-lo com a chave.
A família inteira sabia. E a ordem
de “pega lá no cofre” era dada como se fosse na prateleira da cozinha.
Até que um hóspede descuidado deixou
que o neto brincasse, girando o mostrador circular. O menino foi e voltou
inúmeras vezes, achando engraçado o barulhinho.
Pego pelo dono da casa, só sorria,
não imaginando o transtorno.
O segredo estava num papelzinho
rosa, do fabricante, entregue junto com o monstro verde de aço.
Enfiado em alguma gaveta, jazia sem
esperança de ser encontrado.
A dona da casa matutou, matutou, e,
exausta de tanto vasculhar, adormeceu.
Na manhã seguinte, acordou cedo,
vestiu seu penhoar, e foi direto ao armário, dentro do livro sonhado.
Num catálogo de médicos do convênio,
descansava o cartão desbotado da Fiel.
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