A Baronesa - Vera Lambiasi



A Baronesa  
Vera Lambiasi

Depois de cinco divórcios, e algum dinheiro juntado, Rosa decidiu mudar de vida.

Deixou o sul, onde era muito manjada, e investiu numa propriedade ao norte de Milão.

Passou por brechós em Roma, vestiu-se com cachemiras, lãs e pérolas.

Em Florença, arrematou móveis de segunda-mão de uma falida família de duques.

Juntou quadros e tapetes falsificados, mas de boa estampa.

Caprese, cidadezinha pequena, tudo à venda, pagou barato pela antiga casa de pedras.

Astuta, fez o projeto de reforma, empregou pedreiros locais, ia jogando conversa fácil e conseguindo favores polpudos, daqui e dali.

Corria na praça, que a Baronesa iria se estabelecer junto a fonte, montar comércio, trazer investidores, fixar pousadas.

Assim, estabeleceu-se, com a concordância até dos mais tradicionais moradores.

Senhora Rosa, com sua nobreza, traria pujança ao vilarejo, pensavam todos.

E ajudavam, mais, e mais.

A esperta caprichava no sotaque milanês afrancesado. Já comprava fiado na venda, no café, até no salão de beleza. Sua presença ali trazia novas freguesas, a procura de dicas da personalidade de mais bom gosto das redondezas.

Recitava poesia portuguesa, decorada às pressas. Passos de flamenco, ensaiados frente à TV. Receitas austríacas de dar água na boca, surrupiadas da internet.

Uma cidadã da elite europeia, não punha dúvidas.

Abriu sua casa para aulas de etiqueta, caligrafia, costura moderna, culinária prática, e o que sonhavam as clientes em potencial, pobres camponesas.

Esqueceu a volúpia, não recebia homens, apesar dos galanteios na missa de domingo.

Bem apresentada, passava confiabilidade. Dívidas eram perdoadas, aposentadorias postas em suas mãos para aplicação. Engordava seu bolso, e enrolava na montagem dos negócios.

Meses passaram, quase um ano, quando apareceu ali um suíço bem apanhado, meio grisalho, calças vermelhas. Um mistério a ser descoberto por Rosa, já enferrujada de suas conquistas.

Foi fácil para ele, tê-la em seus lençóis. Arrebatou-a sem dó. Conquistou-a numa simples noite.

Cega de paixão, abriu sua casa e corpo.

Casaram, contas conjuntas.

Uma semana depois, parava na garagem um caminhão de mudanças.

O suíço prometeu mudarem-se para um palácio de sua família, além da fronteira, como merecia uma baronesa.

Rosa empacotou, e despachou tudo com um sorriso largo.

Adeus vidinha vulgar naquela pocilga.

O marido estrangeiro, foi com a mudança, combinando resgatá-la em poucos dias.

Em poucos dias... O dinheiro foi raspado do banco.

Rosa permaneceu na casa fria, sem móveis nem adornos.

E Caprese, mais uma vez a acolheu.


Trabalha agora com presteza no salão de beleza “A Baronesa”.

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