ERA UMA VEZ NA ITÁLIA...
Carlos Cedano
O avião pousou, consegui
meu sonho de chegar à Itália! A partir de Roma viajei de carona para o norte o
que foi facilitado pelo meu conhecimento da língua que enriquecia meu bom contato
com as pessoas!
A última carona me deixou
numa pequena vila perto de Arezzo, muito bonita e bem arrumada, com pequenas casas,
a maioria pintada de branco, e com ruas de paralelepípedo.
Escutei o som forte de algo
que se aproximava. Olhei na direção da esquina, primeiro apareceu uma cabeça
que logo reconheci como sendo de um burrico. Ah! Estava puxando uma charrete com um casal de
idosos! O barulho que escutava era o contato das rodas de ferro com o chão de
pedra.
Com um sorriso cordial fiz
sinal pra se deterem. Cumprimentei-os e perguntei que cidade era aquela. O
senhor me olhou e sorridente:
— Você está na vila de Biaggi
meu jovem. Está indo pra onde?
Expliquei que queria ir
para Florença na região Toscana e gostaria saber que direção tomar para esperar
por uma carona. A esposa com delicadeza me disse:
—Meu jovem, você já está
na região Toscana e Florença fica a setenta cinco quilômetros ao norte. Estamos
indo visitar minha filha que mora no centro de Arezzo e vamos passar o fim de
semana na sua casa. Podemos leva-lo até lá onde será mais fácil pegar sua
carona.
Aceitei de bom grado, mas
quando ia subir na charrete pedi um minuto de licença e tirei fotos da charrete
com o burrico e o casal esboçando um enorme sorriso! Era uma cena muito
pitoresca e humana!
Enquanto caminhávamos
lentamente pela estrada vicinal entre campos de oliveiras e vinhedos, admirava
a beleza da região que mais parecia um paraíso. As flores, as casas de campo e
os pássaros completavam essa paisagem deslumbrante! Sem dúvida uma dádiva dos
deuses!
E eu? Bem, eu não parava
de tirar fotos e me sentia frustrado de não poder captar todos os detalhes que sorriam
pra meus olhos!
O casal me olhava admirado
em ver minha alegria e felicidade! Durante nossa curta viagem aproveitei para contar-lhes
que meus pais eram italianos, o que os deixou muito felizes. Apresentei-me:
— Mário Siena. Sou de São
Paulo, uma grande cidade do Brasil.
— Siena? Indagaram ao
mesmo tempo dona Luciana e o marido, seu Pietro, como querendo ter certeza do
meu sobrenome.
— Esse nome é toscano! Disse
o marido sendo confirmado pela esposa com vivos movimentos afirmativos de
cabeça.
Expliquei que o motivo de
querer ir até Florença não era somente turístico, mas que queria conhecer os
parentes de minha mãe que ainda moravam numa vila perto de Florença.
Foi demais! O casal se
emocionou! Podia jurar que vi correr lagrimas nos olhos dos dois. Subitamente Dona
Luciana virou-se para o marido e lhe disse:
— Pietro! Não podemos
deixar este jovem ir embora sem conhecer nossa família e a cidade! Seu Pietro respondeu
com um largo sorriso dando a entender que estava de acordo e tocamos para a
casa da filha.
Catarina e Marcos, recém-casados,
era um bonito casal e acolhedor. Enquanto descarregávamos da charrete caixas e
pacotes, que exalavam maravilhosos aromas de comida, respondia às perguntas que
me faziam. Estavam muito interessados em saber mais de mim e de meu país e à
medida que o vinho fazia seu trabalho, ficávamos mais expansivos.
O almoço que tivemos foi
uma historia a parte. Dona Luciana tinha levado um bom tempo preparando os
quitutes que descarregamos e foram servidos: antepastos, carnes e aves,
variedade de queijos e, não podiam faltar, salames de vários tipos! Comemos
como se fosse o último dia de nossas vidas, cada iguaria melhor que a anterior!
Ficamos conversando e
comendo até tarde e Marcos me pediu para pernoitar na sua casa, no dia seguinte
faríamos o tour della città. Acordamos às sete horas. A
mesa já estava posta com um baita café da manhã com aquele pão quentinho e
cheiroso que era um sonho, não economizei e mandei ver, sempre com bons modos!
Depois fomos à missa na Basílica
de São Francisco onde parecia reunir-se toda a cidade aos domingos, logo
visitamos a belíssima Piazza Grande onde fiquei sabendo que o filme a Vida é Bela tinha sido filmada em
Arezzo. Depois me fizeram conhecer os prédios medievais no centro urbano,
fiquei admirado como conseguiram integrar harmoniosamente o passado com o
presente! E mais fotos.
Por volta das dezesseis horas voltamos pra casa e comecei a
preparar minha mochila, pegaria um trem comum pra Florença e a família toda me
levaria na estação no carro de Marcos.
Ele estacionou seu carro perto de uma passarela. Com profunda
tristeza me despedia de todos, chorei e muito e teve um efeito catalisador na
família, todos choravam! Surpreendi-me
como em pouco tempo tínhamos criado tão fortes laços afetivos, e pensei siamo tutti italiani. Abraços calorosos.
Volte
sempre! Foi o pedido unânime da família!
Comecei subir a passarela para atingir o outro lado da
estação. Na parte mais alta escutei os gritos de Marcos que com um pacote nos
braços me pedia pra esperar. Detive-me e Marcos ofegante, me disse: minha sogra
estava esquecendo este “lanchinho” que preparou pra tua viagem e me o entregou,
como era pesado! Estava cuidadosamente envolto num pano-de-prato branco; nos meus
braços parecia que estava carregando uma criança e todo mundo me olhava!
No trem, quis ver o conteúdo do “lanchinho” e quando o abri
liberei um aroma de salame e pão fresco que atraiu a atenção das pessoas na nossa
pequena cabine! Durante a viagem, de uma
hora e meia até Florença, consegui dar conta do enorme salame e do pão! Cheguei a Florença, mas as aventuras na Itália
continuam...
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