BAMBEIA Ó PIÃO!
Oswaldo
Romano
Quando
ouvi as histórias do pião, pião que entrou em nossos contos, e contada por
todos os presentes da nossa mesa, fiquei
sensível e tomado pelo passado.
Sei
lá por que, fechei os olhos, fui transportado para o ano de 1.942.
Crianças
pulavam, falavam. Gritos de meninas sobressaiam, eram os das gatinhas, os mais
agudos.
Num
pedaço de chão batido, envolto por terras enlameadas, eu estava ali. Calça
curta, descalço, pés, pernas e a roupa suja mostravam sinais da terra vermelha.
O
short branco da manhã, quando trocado pelo uniforme escolar, estava um chocolate.
Contente
sim em ir para a escola, mas o pensamento permanecia voltado nas sacadas do
Toquinho, o nome do meu pião.
Quando
ele era jogado na roda, zumbia graças aos furos que eu fazia na sua cintura.
Roda pião roda pião,
venha parar aqui, na minha mão!
Como comove. Comove fundo a lembrança do tempo feliz quando eu era criança.
Também
na vida da gente, não é diferente. É um pião, sempre a rodar. Um pião que
também para, quando o tempo faz cansar. Cansar não é bem o termo, seria melhor
quando o tempo quer findar.
Não
falta muito! Hoje, os grisalhos em volta desta mesa, e não mais rodando o pião,
batem no consciente as meninas de pernas finas, finas também suas vozes cantando:
O pião entrou na roda pião, bambeia
o pião, roda o pião.
Como
comove a lembrança, não querendo, mas difícil dela fugir, nos persegue, volta à
consciência. Ouvir sons que iguais, iguais, jamais ouviremos.
Restam-nos
alguns anos da terceira idade. É a idade da paciência, da tolerância com os
menos tolerantes. Estes estão amadurecendo. É a idade do condor. Condor dos Andes, o andes
com dor, mas ande, não desista.
Não faças como o pião que roda,
roda, roda e bambeia quando solto da sua fieira. Agarre-se firme nela, e
só a solte quando puxado pro céu.
Não esqueça, lá tem duas portas!
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