O
INESQUECÍVEL ENCONTRO CASUAL
Carlos
Cedano
Desde
que tinha dezenove anos decorava letras e melodias de todos os grandes tangos.
Sou fanático por eles! Agora com vinte
cinco anos, possuo um repertório de cento e cinquenta deles. Costumo cantar em pequenas
reuniões, com os amigos de faculdade nos bares ou na casa de algum deles.
A
primeira vez que cantei para um público mais numeroso foi no aniversário de
minha amiga Norma. Tinha quase uma centena de convidados, cantei cinco tangos
e, enquanto isso e de relance, enxerguei uma imagem que me chamou a atenção,
era uma bela mulher de rosto fino, morena clara e de cabelos pretos compridos.
Seu andar, além de insinuante, era elegante!
Quando
acabei minha apresentação, recebi muitas palmas, elogios e até insinuações de
que deveria pensar na carreira profissional. Mas, cantar não estava entre minhas
opções de vida. Discretamente procurei a moça entre os convidados e não a
encontrei, deve ter ido embora pensei, e fiquei frustrado!
Um
dia estava no numa conferência sobre economia, me graduaria no fim do ano,
quando encontrei novamente aquela bela mulher cuja lembrança acompanhava meu
dia-a-dia desde que a vi pela primeira vez.
Nossos
olhares se encontraram e, nossos sorrisos também. Aproximei-me e disse:
— Só me falta saber seu nome.
— Elisa, Bruno! Disse simplesmente.
Sua
resposta me pegou de surpresa, ela sabia meu nome e como será que me encontrou
justamente aqui? Minutos depois estávamos sentados à mesa da cafeteria do
hotel. Elisa percebeu minha cara de interrogação, e perguntou:
— Surpreso, Bruno? Foi sua amiga Norma que me disse que você
estaria aqui.
— Você também gosta de tangos? Perguntei
como modo de iniciar e saber mais da linda fêmea.
—
Sou professora, professora de tango, tenho uma escola com quinze alunos.
— E como é que você virou professora de tango?
— É uma historia não muito comprida. Minha
mãe é brasileira e foi a Buenos Aires pra aprender dançá-lo, meu pai foi seu
professor e, como você sabe, o tango é uma dança que aproxima muito os corpos e
os corações. Casaram-se e aqui estou eu!
Não
pode deixar de sorrir e dando uma de brincalhão disse lhe: você ensinaria o
tango para um brasileiro que já está com as “dobradiças” um pouco enferrujadas?
— Sim e não será tão difícil, você já
tem dentro de você o principal, você canta com um sentimento que vêm do fundo
do coração. Falando nisso, gostaria de te fazer uma proposta Bruno!
— Diga Elisa! Respondi curioso.
— Tenho dois grupos, terças e quintas,
de alunos avançados às vinte horas, você canta e eu ensino, depois dessa aula
começo com a sua. Duas aulas semanais de uma hora cada serão bastante, acho eu!
E
assim, foi. Inicialmente meus gestos e movimentos eram desastrados, mas Elisa
tinha experiência e jeito. Um mês depois tinha feito progressos e Elisa me
dizia com eu era um bom “menino”, ela era irónica e nem sempre com muita
sutileza! E foi passando o tempo e conseguia progredir. Passaram-se cinco meses:
— Bruno, você já está melhor que muitos
de meus melhores alunos. Acredito que já podemos passar para outra fase de seu
aprendizado.
—
Qual?
— Aquela
que significa entender dentro de você o que o tango nos diz, o que quer nos
transmitir!
— Pode ser mais explicita Elisa? Sinto o
que você quer dizer, mas não consigo expressá-lo em palavras.
—Dançar o tango significa entrega total
às fantasias que ele nos sussurra. Significa dançar com seu amor como se fosse seu
único e verdadeiro! Diz-nos também que a luta de amor entre um homem e uma
mulher nem sempre tem um final feliz! Por
todo isso, ele é paixão, ele é a procura de absoluto!
Levantei
da cadeira, caminhei até o controle da iluminação e deixei o salão quase na
penumbra, botei o mais arrebatador dos tangos e a convidei-a pra dançar. Naquela noite
compreendi o que Elisa quis dizer, não precisamos de palavras, ao ritmo do
tango nossos corpos e o palpitar de nossos corações falaram por nos!
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