A BATALHA DE JAMBOS
Oswaldo Romano
Jantava depressa, sob o olhar repressivo
da minha mãe, que sabia o porquê. As nove eu tinha que regressar e o tempo era
curto para cumprir nossas inventivas brincadeiras.
Ao sair, de dia ou de noite, quando não
portava o estilingue como um colar no pescoço, com certeza ele dormia no bolso de
trás do limpo, mas surrado calção.
Era nossa arma, contra inocentes passarinhos
ou qualquer outro indesejado. Para provar a quantidade de pássaros abatidos,
sacava-se o canivete e um corte marcava o feito na forquilha do estilingue. O
bom estilingue se conhecia vendo a forquilha de galho da goiabeira, o mais disputado
e que tem o melhor cerne.
Não abatíamos o beija-flor, considerado
pintura de Deus. Estavam livres também os corvos. Estes eram protegidos pelas autoridades,
que deixavam as carniças aos seus cuidados.
Quando caia a noite era a hora da guerra
dos jambos.
O embate acontecia contra o grupo da
Barra, lado oeste da cidade. Amigos na paz, juntos saíamos do patamar da igreja
Senhor Bom Jesus, ao toque dos assobios dos líderes. Numa fuga desordenada eram
escalados os jambeiros do jardim. Armados e escondidos entre galhos, em árvores
diferentes, um novo apito, repetido pelo adversário, dava início a batalha.
Jambos voavam como pássaros desordenados.
Os, agora soldados, não eram vistos. Imaginavam-se seus esconderijos. E as
roupas iam se manchando daquele vermelho sangue, duro de limpar.
Quando o relógio da matriz batia nove
horas, nem mais um tiro. Rápido
reencontro, gozações dos triunfos, cada qual do seu modo chispava para casa. Eu
contava com a volta do meu pai com seu Ford 28 de aluguel, que deixava nesse
horário o bar do Ernesto onde a noite fazia ponto.
Só que ele não me via. Eu na surdina
chocava sua saída, ia pendurado no pneu estepe. Enquanto ele entrava na garagem,
aberta e recuada do portão, pulava, e segundos antes entrava em casa.
Encontrava a mãe, rádio ligado, quase no
escuro, tricotando.
— Cadê seu pai? Você viu seu pai? –
Perguntava.
— Eu vi, mãe. Tá chegando ai. –
Respondia já andando pro banho, escondendo a camisa.
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