SONHO DAS HISTÓRIAS.
Mario Augusto Pinto Machado
As crianças sentadas em semicírculo na
areia da praia já me estavam esperando, mas contrário às minhas normas hoje
havia alguns jovens. Alertei que não podiam ficar. Houve vários Ah, deixa, é meu irmão. É minha amiga, por
parte das crianças. Pensei melhor e concordei avisando que não se intrometessem
nas narrativas, do contrário não continuaria. Palmas de aplauso e diversos Não fala nada, viu?
— Para iniciar, perguntei: Onde estávamos
na última vez?
Aceito por todos e como sempre, Tiquinho
respondeu:
— Você
estava começando a contar uma história do Vermute lá pelos países do Norte.
— Verdade. Então, recordando: Vermute leu histórias
sobre os países do Norte e se entusiasmou. Poderia ver coisas que não conhecia
como a neve, gelo no mar, focas e, talvez, até ursos brancos, grandalhões, a
Pequena Sereia, mas o que queria mesmo era chegar até a casa do Papai Noel.
—
Mas ele não...
— Fica quieto! Não
diga nada. Então Vermute foi de avião até um País chamado Dinamarca. Quando
chegou foi direto ver a estátua da Pequena Sereia sentada numa pedra olhando o
mar. Parecia triste e Vermute perguntou o que a deixara assim. Respondeu que
estava cansada de ficar ali sentada, tinha sofrido várias agressões, queria sair,
voltar a nadar. Será que poderia ajudar? Vermute usou seus poderes de
transformação, mas antes avisou que o encanto era para ela só nadar ali perto à
noite e voltar para a pedra durante o dia. A pequena sereia aceitou e lançou-se
ao mar nadando, rindo, cantando de alegria. Vermute olhava contente com a
alegria dela, mas pediu para ela voltar: ainda não era noite. Avisou que ia ver
outros lugares, depois voltaria.
A chuva interrompeu
a história. Foi uma debandada geral. Voltei para casa, jantei, mal falei com a
Clô e fui dormir.
Sonhei com a
Pequena Sereia sendo maltratada por muitas pessoas porque estava nua. Encontrei-a
chorando. Usando meus poderes, imediatamente cobri seu corpo com um lindo manto.
Gritos me chamaram a atenção. Era o Príncipe Submarino que chegava e espantava
aquela gente raivosa. Clamava Minha
querida, minha querida! Estou aqui. Fique calma. Como é que isso aconteceu? Ela respondeu: Aquele mago ali tinha dito que podia. Irritadíssimo, o Príncipe
correu na minha direção gritando Maluco!
Acabo com você! É pra já! Aí estourou um raio. Era o Capitão América que me
defendia. Subimos aos céus e fomos a Paris onde nos juntamos a Obelix e Asterix
que estavam assando um cateto controlando o fogo da Tocha Humana. Ao se
cumprimentarem deu para ouvir o barulhão com “tapinhas” nas costas e o ranger das
costelas deles sendo apertadas com os abraços. Asterix logo chamou para comer.
Depois que Obelix se serviu pouco sobrou pra nós, mas estava uma delícia. O
sonho acabou.
Acordei com gosto
ruim na boca, cabeça pesada, corpo cansado e sem vontade de fazer a maleta para
passar o fim de semana na casa da Restinga da Marambaia com a familiagem toda. Era bastante
gente, muito barulho, inclusive bebes de colo, os gêmeos da minha irmã. Sou
padrinho deles.
Calor muito forte, trânsito
caótico, viagem demorada e cansativa. O tempo mudou começando a ventar forte
agitando as ondas do mar. Todo mundo estava pregado, arrumamos as camas, etc.,
comemos um lanchinho e fomos deitar. Fiquei acordado muito tempo só conseguindo
dormir quase ao amanhecer. Clô me disse que tive sono agitado, revirando na
cama, afastando as cobertas, murmurando palavras desconexas.
— Você continua tendo sonhos malucos. Já é
demais. Você mexe a cabeça pra todo lado, pernas e braços que me obrigam a
empurrar você. Afinal, o que você sonhou
de tão ruim que lhe provocou tanta agitação? Pode começar a contar. Desta vez
faço questão de saber. Conta, vai!
— Bom, é que sonhei com nossos sobrinhos
gêmeos. Eles estavam no carrinho com a Lia na lapinha. Ela colocou os dois na
pedra e brincava com eles quando veio uma onda mais forte que jogou-os na água.
Ela ficou desesperada, mergulhou procurando os gêmeos. Gritava por eles e me
chamava para acudir. Eu estava sonolento na varanda, ouvi os gritos e corri o
mais rápido que podia, mas você sabe, a lapinha é longe. Aí chamei o Capitão
América. Atendeu meu apelo junto com o Homem Aranha. Voando feito rojão tiraram
os três da água, passaram a lapinha e os colocaram na areia da praia. Estava
agradecendo quando do nada apareceu a Liberdade desesperada.
— Estava seguindo você, gritou ela. Esta saia me atrapalha, que coisa! Tinha
pressentimento que algo errado estava para acontecer. São os meus gêmeos! Como
apareceram aqui? Um estava na Europa com
a Sereia e o Manequinho na frente do Estádio do Botafogo. Como explica isso seu
Fred?
— Liberdade, são coisas que acontecem, não é
culpa de ninguém.
— Como não! Você, seu mago de meia tigela é o
culpado, respondeu agitando o corpanzão pra me pegar, mas, o Capitão América
me levou pra longe e me salvou da ira da mulher. Depois disso as coisas ficaram
confusas e não lembro bem. Foi isso. Está satisfeita? O beijo que recebi
respondia que sim, estava. Retribuí,
beija daqui, beija de lá, uns amassos e, banhados pela luz do sol que entrava
pela janela, acabamos fazendo amor gostoso.
Tomamos uma
chuveirada juntos. Que gostosura! Clô desceu dizendo que nos encontraríamos na
praia.
Logo depois também
desci, fui pra praia. De repente estanquei: tinha uma aglomeração na lapinha.
Clô me chamava agitando os braços. Aconteceu,
aconteceu, pensei angustiado, coração
batendo feito um bumbo. Corri no que dava.
Vi que os gêmeos
estavam nos braços da Mulher Maravilha e do Fantasma.
Não é possível, estou sonhando acordado!
Corri mais
rapidamente. A gente toda me chamava. Parei de correr. Feliz da vida,
lembrei-me e gritei:
É isso! É isso!
Hoje é sábado de Carnaval!
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