Família, por que e para que?
Ises
A. Abrahamsohn
Afinal qual a vantagem de se ter uma
família? E qual família?
Estamos numa época em que políticos,
por preconceitos de origem religiosa, se arrogam o direito de querer definir se
casais não convencionais ou pessoas solteiras teriam ou não direito a criar e
cuidar de crianças.
Pois é essa a função primordial da família.
Nas espécies animais, a existência de uma família para cuidar dos filhotes é
uma vantagem adaptativa. A família pode ser constituída pelos pais biológicos
como entre as cegonhas, ou a função familiar pode ser assumida pelos vários
indivíduos de um mesmo clã ou tribo como em algumas espécies de macacos.
Se olharmos a evolução do Homo
sapiens, as primeiras famílias se formaram quando os grupos, antes nômades
caçadores-colhedores, passaram a cultivar vegetais e domesticar animais
organizando-se em aldeias constituídas de várias unidades familiares muitas
vezes relacionadas. A agregação dos filhos e descendentes à unidade familiar
propiciava melhor exploração agrícola e, portanto, maior aporte de alimento
além da necessidade de defesa contra-ataques de outros clãs ou povos. A
estrutura familiar conferia também para a espécie humana melhores chances de
sobrevivência aos filhotes.
A estrutura familiar humana variou ao
longo dos séculos. Não necessariamente o cuidado dos filhotes ou sua
alimentação e educação eram providos pelo casal de pais biológicos. Há exemplos
de matriarcado, de famílias poligâmicas, de famílias romanas onde os filhos
bastardos conviviam todos na casa do pai, e de famílias adotivas para órfãos ou
bastardos que os criavam como se fossem consanguíneos.
Na verdade, para o indivíduo não
importa se existem ou não laços sanguíneos entre si e a família que o acolhe. O
que importa é o cuidado que lhe é, e será dispensado. Aquele ser humano, homem
ou mulher, casados ou não, hétero ou homo que proverá o cuidado e a afeição, é
que passará a ser sua família. A insistência no mito da necessidade de família
convencional para adoção de uma criança é retrógrada, discriminatória e ignora
o drama de grande número de crianças à espera de uma família, seja ela
tradicional, uniparental ou não convencional.
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