De portarias e invisibilidades - Ises A. Abrahamsohn




De portarias e invisibilidades
Crônica Ises A. Abrahamsohn

Interesso-me pelas pessoas de diferentes idades que trabalham em portarias. Ocupação fadada a desaparecer, já substituída em vários lugares por equipamentos eletrônicos. Quem são e o que fazem durante as horas de seu frequentemente monótono trabalho? Um comentário ou uma pergunta simpática bastam para um retorno interessante.

Também observo as atitudes dos usuários ao passar pelas portarias. Vários, cujo número não é muito grande, cumprimentam quem lhes dá acesso ao clube ou ao prédio: um bom dia amistoso, um sorriso ou um comentário sobre o tempo. 

Reparei que os de mais idade são maioria entre os que enxergam ali, atrás do vidro, uma pessoa. Entretanto chama a atenção que muitos adultos e jovens parecem não ter tempo para essas amenidades. São impacientes ao anunciar o seu número de sócio e ansiosos pelo sinal verde da catraca. Parecem estar sempre atrasados! Esquecem mesmo a mais corriqueira das saudações formais: aqueles bons dias, tardes ou noites, mesmo maquinais, com que nos saúdam os vendedores nas lojas. A pressa ou a indiferença os tornam cegos ao outro. E, pior, esquecem-se de ensinar aos mais novos as boas maneiras de convívio.

Outro dia, ao entrar no clube, reparei no livro que a jovem colocou de lado enquanto me atendia. Já o tinha lido e comentamos sobre o  conteúdo e autor.

Espero que demore o dia em que as máquinas invadam as nossas portarias!

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