COVEIRO ATENCIOSO - Sérgio Dalla Vecchia


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COVEIRO ATENCIOSO
Sérgio Dalla Vecchia


Era um domingo de tempo instável em um cemitério na grande cidade.

No velório apinhado, chorosos e tagarelas marcavam presença em deferência ao ilustre defunto.

Enquanto no céu, nuvens estratos-cúmulos carregadas de energia iam se avolumando, sinalizando uma grande borrasca.

Após o padre encomendar a alma de um dos velados, o cortejo partiu pela alameda em direção à sepultura.

À frente ia o carrinho com o caixão empurrado por familiares e logo atrás os assinantes do livro de presença e alguns interessados.

Daí aconteceu o inevitável!

O temporal desabou com ventos fortíssimos e chuva diluviana.

Em minutos o cortejo debandou no salve-se quem puder!

No meio fio da Alameda sobrou apenas o carrinho estacionado.

Abandonaram o defunto completamente só sob o aguaceiro!

Foi quando surgiu o coveiro com um grande guarda chuva.

Aproximou-se  do caixão e ali postou-se estático em proteção ao desconhecido morto.

Vento, água e raios despencavam. Ele imóvel.

Após meia hora de tormenta veio a esperada bonança, e logo o cortejo se recompôs.

O coveiro encharcado, ainda em pé junto ao caixão, aguardou impassível o reinício do funeral.

Nisso um dos presentes condoeu-se da atitude daquele homem e perguntou-lhe:

—Por que o senhor tomou toda essa chuva para proteger um pobre defunto?

A resposta foi curta e grossa.

—Respeito!


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