O
Celular
Maria
Verônica Azevedo
Tornou-se uma extensão dos
dedos das pessoas. No começo o celular era um recurso de comunicação à
distância, por isso melhor do que o telefone fixo. Mais versátil, portável,
acessível a poucos pelo preço e dificuldade de obtê-lo.
O primeiro aparelho, que eu vi, foi
trazido a minha casa por meu filho, então universitário, que o adquirira de um
amigo recém-chegado dos Estados Unidos: um tijolo preto, que ficava preso ao
cinto da calça por uma espécie de estojo. Era preciso desabotoar a capa para
poder pegá-lo e buscar o melhor local para o sinal adequado.
De lá para cá, as coisas mudaram muito.
Agora, bem mais leves, os celulares de
muitos tipos e tamanhos estão nas mãos de pessoas de todas as idades. Telefonar
é o que menos fazem. São brinquedos para crianças, distração para idosos,
ferramenta de negociação para empresários, fonte de provas para investigação
criminal, instrumento de suborno...
Mas também são importantes para se obter
socorro em situações de perigo e ajuda para encontrar amigos distantes.
Outro dia, observava na pizzaria as
pessoas em grupos de amigos à espera do serviço do garçom, todos com os olhos
colados no pequeno aparelho e os dedos freneticamente dedilhando a tela. Eram
como uma coleção de pessoas solitárias. Não aproveitavam a companhia dos amigos
a sua volta.
Quando
meus filhos eram pequenos, na sala de espera do pediatra, encontrávamos outras
mães ou pais com seus filhos ou a espera deles. Naquele ambiente estranho, algo
nos aproximava pela coincidência da necessidade de zelar pela saúde dos pequenos.
Essa semelhança de objetivos abria espaço para trocas de experiências que
geralmente motivava várias conversas. Isso aliviava a nossa tensão e nos
consolava a aflição, por poder compartilhar. Agora, em situações semelhantes,
as pessoas na sala de espera nem se cumprimentam e dificilmente trocam alguma
palavra. Todos aliviam a tensão consultando a tela do celular. Ali todos os
homens e mulheres são “ilhas”.
Será que o celular é mesmo um
instrumento de comunicação?
A maior parte do tempo crianças e jovens
os têm nas mãos para operar os jogos, muitas vezes com um pano de fundo de
muita violência. Assim a vingança, o ódio, os prazeres da derrota vão
alimentando o imaginário da maioria.
É sem dúvida um choque cultural.
Como sair dessa ciranda?
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