UM PÁSSARO APRISIONADO
Ledice Pereira
Quando
Isa Taxipa nasceu, o Pajé deu-lhe esse nome em virtude de um pássaro vermelho
que ali insistia em sobrevoar. Pertencente à tribo dos Kaxinawá, IsaTaxipa
cresceu no meio da floresta, na fronteira do Brasil com o Peru, no estado do Acre.
Os Kaxinawá decidiram ao longo dos anos permanecer reclusos na mata virgem, isolados do contato
com o homem branco.
Com o pai, Isa Taxipa aprendeu a pescar, utilizando-se principalmente do timbó, um cipó venenoso, que quando diluído na água, mata os peixes
e faz com que saltem na superfície, tornando mais fácil capturá-los.
Aprendeu
também desde a infância a caçar, atividade exclusiva dos homens, cercada de técnicas
e rituais, como observar os hábitos de cada tipo de animal, reconhecer seus
rastros e imitar seus sons.
Isa Taxipa,
entretanto, tinha outros sonhos. Queria sair daquele mundinho em que vivia e
conhecer outros povos, outras tribos. Não se conformava em viver isolado de
tudo e de todos.
Numa tentativa
de aproximação de uma expedição da Funai, Isa Taxipa ficou olhando como que
hipnotizado e, desobedecendo ordens do pai e dos demais homens da tribo, foi se
aproximando daquelas pessoas que não lhe pareciam tão perigosas.
Não entendia
nada do que eles falavam, mas sentia que não lhe fariam mal.
A expedição
levava consigo alguns índios que já tinham contato com as civilizações urbanas.
Isa Taxipa teve vontade de se relacionar com eles embora houvesse a dificuldade
de comunicação.
Mostrou-lhes
a arte do desenho Kaxinawá, que havia aprendido com sua mãe. E através de
mímica conseguiu se comunicar com aqueles visitantes tão mal vistos pelo resto
da tribo.
Havia entre
eles uma tímida e linda jovem de origem Tikuna, cujos olhos de cor indefinida
fizeram com que Isa Taxipa se sentisse imediatamente atraído.
Chamava-se
Amandy, nome dado a ela porque quando nasceu chovia muito.
Amandy
acompanhava o pai em na expedição da Funai para integração de tribos indígenas
isoladas. O fato de levarem índios de outras tribos facilitava a aproximação.
E Isa Taxipa
sentiu que ali estava a oportunidade de partir para outros horizontes. Resolveu
seguir a expedição. Estava com dezessete anos e achava que seus pais não podiam
prendê-lo mais àquela limitação.
Amandy
mostrou-se receptiva e procurou ensinar tudo que podia.
O pai de
Amandy gostou daquele índio que trazia consigo apenas arco, flecha e timbó. E
que logo demonstrou habilidade no manuseio dessas armas ao caçar e pescar.
Aos poucos,
Isa Taxipa foi aprendendo o vocabulário de Amandy. Era muito esperto e
determinado. Logo começou a frequentar as aulas de língua portuguesa que eram
dadas à tribo dos Tikunas na fronteira do Brasil e Peru, e que Amandy já frequentava. Esse convívio os
fez se sentirem cada vez mais unidos até que se descobriram apaixonados.
Isa Taxipa e
Amandy resolveram se unir. Os pais de Amandy, que já haviam sido conquistados
pelo rapaz, aceitaram a união e os ajudaram a preparar a cerimônia de acordo
com os rituais tikunas.
E todos
queriam participar daquela cerimônia, coloriram o rosto, colocaram seus cocares
e dançaram muito invocando os espíritos para proteção ao jovem casal.
Isa Taxipa e Amandy ganharam dos pais dela uma linda casa
que Isa ajudou a construir.
E
ali passaram a viver a vida a dois. Embora muito jovens, eles, habituados aos
costumes de suas tribos por quem tinham tanto respeito, logo se acostumaram à
nova vida.
Ali
nasceu o primeiro filho que por ser tão lindo recebeu o nome de Porã.
E quando Porã completou três anos nasceu Quaraçá, numa linda manhã de sol.
Essa
é uma história, como tantas outras, de amor, trabalho e respeito que, por
acaso, aconteceu entre jovens pertencentes a tribos indígenas, mas que poderia
ter acontecido com qualquer jovem habitante deste planeta.
Nenhum comentário:
Postar um comentário