Brasileiros no Aeroporto
Fernando
Braga
Há tipos gozadores,
principalmente quando brasileiros. Vejam o que me contou um amigo.
Seguiram
ele e a esposa para um congresso no Japão, mais precisamente para Sendai. Após
o excelente encontro científico, viajaram por muitas cidades, não somente para
conhecê-las como Nara, Kioto, Nagóia, Matsumoto, mas também para visitar
serviços, relacionados à sua
especialidade, chefiadas por conhecidos
mestres japoneses. Passaram quase um
mês em suas peregrinações e finalmente iriam voltar ao Brasil, já muito
saudosos dos filhos, parentes e amigos. A viagem pela Japan Airlines saia de
Narita em Tóquio com destino a Los Angeles e depois pela Delta, até São Paulo.
Eram ao todo 23 horas de viagem aérea.
Chegaram
ao aeroporto duas horas antes do embarque, fizeram logo o check-in e após
entrarem no setor de embarque, ficaram passeando, interessados nas lojas do Free
Shop. Sua mulher resolveu fazer umas comprinhas e ele saiu sozinho a passear,
combinando se encontrarem após 30 minutos, nos bancos, junto ao portão de
embarque.
Passeando
lentamente, passou por um grupo de senhoras já na terceira idade ou próximo, que
animadamente em grupo, conversavam em português do Brasil. Ele parou próximo, ficou
observando-as e logo após, aproximou-se
e perguntou em inglês àquela mais falante:
—
Excuse-me, but what language are you
speaking?
Ela
ficou parada e bateu no braço de sua colega e disse:
—
O que este senhor quer? Ele olhou e
perguntou à outra.
—
I just was asking about the language you
are speaking?
A
outra que parecia falar um pouco de inglês respondeu:
—
Oh, we
speak portuguese. We are from Brasil!
—
Yes. I have been in Portugal and the language is diferente. You speak a soft
language, sounds like a music, diferente from Portugal, where they speak
roughly.
—
From what part of Brasil are you?
—
Curitiba. We are in excursion.
Todas
as senhoras presentes, se interessaram, se aproximaram e quiseram participar da
conversa. Perguntaram a ele:
— What
país is you?
País?
Pais?
A
outra virou e disse:
—
Country!
Falando
devagar ele respondeu:
—
Oh yes, I am Russian and a live in Petropauloswky, in Siberia, very,very
far. In two hours I get the Russian Airlines and go north, across Mandchuria
and then, Siberia.
Elas
falavam muito entre elas e agora, todas interessadas em mim, na minha conversa.
Eu
falava pausadamente e explicava com as mãos:
—You know that in my city, a great number of portugueses, some of then
are my friends and because of this, I
can understand, a few words in portugues,
for instance:- Obrigadu! Pro favor! Quirida!
—
Oh yes, yes! Todas se alvoroçavam.
—
When
you all speak, I can understand a little. I can not speak, but understant a
little.
Me
faziam perguntas em inglês bem mal falado e eu respondia.
— Viu como
estou falando bem o inglês, ele entende tudo o que pergunto ou falo!
Após
muita conversa em que ele explicava e inventava como era viver na Sibéria,
lugar muito frio, desértico, a comida baseada em peixe, a ferrovia Transsiberiana,
etc, perguntou:
—
You told me, you are from Curitiba?
—
Well,
I know a doctor from there. Is name is Sergio Bremer.
—
Oh meus Deus, Sergio Bremer, médico do
coração? E apontava o peito.
— Yes,
sim, the same! He is very, very famous
in Russia. Excelente doctor!
Sergio
Bremer havia sido seu colega inicialmente no colégio Arquidiocesano e depois
haviam se encontrado várias vezes em diversas ocasiões. Ambos eram médicos.
Uma
das senhoras chamou todas as outras, tomarem conhecimento do que ele havia
dito.
—
Vejam, ele é russo e conhece o meu sobrinho Sergio Bremer. Disse que ele é
muito famoso na Rússia. Se é na Rússia é porque é famoso em todo o mundo. Quando
voltar, quero contar tudo a ele.
—
Desculpe qual o seu nome, perguntou a ele em português.
—
My name is Sakarov, Pietr. Please, remember me to Bremer, when you arrive in
Brasil.
Nisto,
se aproxima minha mulher que vinha carregada de compras e me questiona:
—
O que você está fazendo aí, no meio desta
mulherada?
Peguei-a
imediatamente pelo braço e saí dali, abanando minha mão a todas.
Quando
chegamos ao local de embarque, lá estavam elas todas juntas, aguardando. Saí de
fino e quis ser o último a embarcar. Minha mulher não entendia o porquê, não
havia contado nada a ela.
Quando
entrei no avião e comecei a passar pelo corredor, algumas me viram e começaram
a se comunicar umas com as outras, me apontando.
—
Olha lá. É ele. Não disse que ia para a Sibéria?
Minha
mulher ia na frente e ao passar por elas, perguntaram:
—
Você é do Brasil?
—
Sou sim, por quê?
—
É esposa dele? Ele é russo?
—
Sou sim. Russo?
—
Você sabe que ele nos enganou, a todas, dizendo que era Russo!
Nesta
altura comecei a morrer de rir! E disse em português claro:
—
Vocês são muito simpáticas, um beijo para todas, minhas queridas de Curitiba.
—
Seu mentiroso. Você nos enganou, nos pregou um peta, uma peça! Vamos descontar
antes de chegar a São Paulo, temos muito muito tempo de voo.
Sentamo-nos
mais ao fundo, elas morriam de rir e olhavam para trás.
Fizemos
a internacionalização em São Paulo, nos despedimos e elas fizeram a baldeação
para Curitiba. Sai dizendo:
—
Não se esqueçam de dar um abraço no Sergio Bremer.
—
Então diga seu nome verdadeiro.
—
Diga que foi o Purunga, meu apelido desde os tempos de colégio, que certamente
vai saber quem é!
Adeus
e boa viagem a todas você!
Que cara danado, este meu amigo!
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