COISAS DE OUTRO MUNDO – I
Maria
Luiza de C. Malina
Viajar
é muito bom. Lugar escolhido, idioma, o preparo das malas, então nem se fala! O
necessário está dentro. Pronto. Tudo fechado. Tem uma coisa que a gente não
coloca, mas que vai junto – o imprevisto.
Estava
na minha terra, quer dizer, no país onde eu nasci. A dificuldade do idioma é
medonha para qualquer turista da América. Imagine o diálogo com um simples
motorista de ônibus que nunca saiu de “sua terra” ou até mesmo da própria
cidade.
Muito
bem, lá estávamos. Quatro pessoas, cara de turista e jeito de brasileiros. Esta é outra coisa! Não te encaram, percebem
que é de fora. Eu pobre de mim, no Brasil percebem que tenho ascendência
estrangeira, agora eu estou na minha terra e o mesmo me acontece! Veja só. Na
placa do ponto de ônibus está escrito “Adquira o ticket de ônibus e metrô com o
motorista”. Beleza! Estão modernizados! Lá vem ônibus, só eu domino o idioma,
os três acompanhantes nada entendem.
Subimos.
O ônibus saiu. Eu continuava em pé ao lado do motorista querendo comprar as
passagens. Ele sequer me olha, continua falando ao celular e eu escutando, o
bus elétrico cada vez mais perto do destino, e ele no celular, penso que me
tornei invisível. Ao chegar a última parada, ele me descobriu em pé ao lado
dele, e pergunta:
—
O que você quer?
—
Comprar os tickets junto com o metrô,
quatro, por favor. – Ele me olhou como se estivesse vendo um E.T. me
analisando por inteiro e perguntou grosseiramente:
—
Comprar o quê? Agora? - Expliquei que
estava esperando ele acabar de conversar no celular que, então queria acertar a
viagem. E, não só me interrompeu como perguntou
com o maior desdém, parecendo que iria me agredir:
—
Você vive em outro mundo? De que mundo
você veio? – Isso tudo porque falo perfeitamente o idioma do troglodita.
Fui pego de surpresa, não tinha uma resposta na boca para o malcriado, sem
educação.
—
Hein! Veio de outro mundo? – ainda
insistiu aos berros.
Ah!
Subi e desci a serra. Juro que eu não queria sair da linha. E o pior é que ele
estava certo. Estava em viagem apresentando “minha terra” aos meus filhos e, estava
sendo destratado. Não, não tem pra ninguém! Dei uma avacalhada com a voz mais
alta do que a dele.
— Sim.
Eu sou de outro mundo. Eu vim do Brasil, lá todos são mais civilizados do que
você e, pagamos a passagem como está escrito na placa – ainda repeti - Sou de outro mundo! - enfiando minha
cara nas fuças dele. E, sai bufando. Por esta não esperava.
Ser
tratado por ET no país em que nasci!
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