A ESTAÇÃO DA LONGÍNQUA CIDADE
Ledice Pereira
Era a atração da
cidade aquela estaçãozinha tão simples que recebia gente das cidades próximas e
se despedia daqueles que realizavam seus sonhos de viagem.
Muitas tardes, Luísa
passou ali. Deixava-se levar pelo seu sonho de um dia partir, numa aventura,
para lugares distantes.
Tinha catorze anos,
mas seu corpinho franzino a tornava mais jovem.
Era morena dos
cabelos encaracolados e vestia-se sempre com um vestido vermelho.
Um dia, Renato
chamou-lhe a atenção. Nunca o tinha visto por aquelas bandas. Percebeu que ele
a olhou. Envergonhada, disfarçou conversando com Sandra, sua prima, que sempre
a acompanhava.
E passou a ir ali,
até com mais frequência, para tentar rever aquele que povoava seus sonhos.
O tempo passou e ele
não voltou.
Luísa encorpou,
tornou-se uma jovem graciosa que continuava a sonhar em viajar naquele
trenzinho que conhecia desde pequena.
E houve o baile anual
da cidade. Pela primeira vez, a jovem iria participar. Estava com dezoito anos.
Vestiu-se como devia para o tão esperado baile.
Os caracóis de seus
cabelos foram penteados por sua mãe. A prima lhe pintou os lábios de vermelho.
E o vestido azul, que já tinha sido usado por sua irmã mais velha, serviu-lhe
como luva. Estava linda em sua discrição.
E, ao chegar, qual
não foi sua surpresa ao avistar do outro lado do salão, no meio de vários
amigos, o jovem que jamais saíra de seu pensamento.
Luísa corou. Temia que
alguém percebesse o sentimento que tentava esconder. Nem à prima havia
confidenciado.
Logo, ele também a
viu. Nunca a tinha esquecido.
E ela, na sua rósea
timidez, que a deixava ainda mais linda, mal acreditou quando seu príncipe
encantado dirigiu-se em sua direção convidando-a para dançar.
E aquela estaçãozinha
passou a ter um frequentador assíduo.
Após dois anos de
namoro, Renato e Luísa resolveram se casar e ela então realizou seu outro
antigo sonho, partindo naquele velho trem para a maior aventura de sua
vida.
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