ANINHA - Carlos Cedano


 
ANINHA
Carlos Cedano

Sentava-se no fundo da sala, sempre quietinha e com ar recatado. Era bonita também e respondia de forma inteligente às perguntas formuladas pela professora. Aninha era considerada a melhor aluna da classe e era “queridinha” das freiras.

Mas havia algo de estranho nessa criatura que se revelava no olhar frio que causava arrepios nas colegas, além disso, falava de forma enigmática e com um tom de voz incisivo e penetrante. Sua simples presença era um tormento para as alunas. Ela as apavorava!

Um dia Aninha perguntou para sua colega Matilde por que tinha chorado tanto, ela respondeu que não tinha chorado e Aninha retrucou dizendo que ela estava negando o sofrimento que seus pais lhe infligiam em casa. Matilde saiu correndo e chorando e se sentindo descoberta. Aninha tinha lhe falado com um olhar fixo e com sorriso de escarnio! A crueldade era outra de suas características.

Um dia encontrou com outra colega lhe disse: Você deve ser muito feia e é por isso que se maquia tanto, né Rita? Rita respondeu timidamente que não era por isso, mas que queria sentir-se bonita e bem arrumada. Aninha a contemplou direto nos olhos e lhe disse: Quer saber a verdade mesmo Rita? Você continua feia! E foi embora deixando a pobre colega sem reação!

Numa outra circunstancia encontrou-se com uma colega que vivia orgulhosa de seu pequeno cachorro e falava pra todo mundo que o adorava ele! Aninha a escruta com seu frio olhar e lhe disse: Você adora esse cachorro, né Fernanda? Tem certeza que ele não está doente? Aninha com um riso sardônico virou-se e foi embora deixando a coitada perplexa sem acreditar no que tinha escutado!

O pior de tudo foi que no dia seguinte Fernanda não foi pra escola, seu cachorrinho subitamente tinha morrido e ela ficou doente. Demoraria alguns dias pra Fernanda se recuperar.

Quando a noticia se espalhou, todas as alunas ficaram em polvorosa e com muito medo. As freiras se encarregaram de defender Aninha a todo custo: Imaginem! Uma menina como ela meiga, recatada e excelente aluna, os buchichos somente podem ser calunias ou simplesmente inveja, e isso Deus castiga! Foi o veredito das freiras.

Passaram-se alguns anos e Fernanda com seu marido foram como convidados a uma cerimonia de consagração de novas freiras. Quando acabou a consagração, os parentes e amigos delas se aproximaram para conversar com elas e parabenizá-las.


Subitamente uma das novas freiras se aproxima de Fernanda e lhe disse: Você não está me reconhecendo Fernanda? Desculpe, respondeu Fernanda, não a reconheço com  roupas de freira e o paramento que leva na cabeça! Foi nesse momento que a freira exibiu seu sorriso cruel e seu olhar frio que Fernanda a reconheceu, sim! Era a própria Aninha!

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