CHORÃO,
SIM, E DAÍ?
Jeremias
Moreira
Eu tinha um jeep 1959 que pertencia
à primeira série que a Willians fabricou no Brasil. Mas, não era um veículo
qualquer. Esse tinha história! Pertencera ao Ozualdo Candeias e, posteriormente,
ao Virgílio Gauchinho, de quem comprei. Com eles, o jeep já havia participado
de oito filmes e depois, comigo, de mais dois.
Quando comprei do Virgílio fiz uma
reforma geral, pintei de amarelo limão, com uma faixa preta no capô e coloquei
uma capota Pissoletro, conversível. Fazia tanto sucesso que, diariamente,
recebia proposta de pessoas interessadas em comprá-lo.
Nessa época a Deborah estava
grávida de nosso primeiro filho. Não havia exames de ultrassom, então não
sabíamos o sexo da criança. No dia 5 de novembro a Deborah me ligou aflita. A
bolsa havia se rompido e ela estava tendo contrações. Corria o ano de 1973, eu
era montador da Filmcenter e estava apresentando um filme de sandálias
Havaianas, para o cliente. Deixei a sala de edição, entrei no jeep e fui voando
para casa.
Encontrei a Deborah, na porta, a
minha espera, com sua maletinha ao lado. Saímos a toda em direção à Maternidade
São Paulo. O jeep sacolejava tanto que temíamos que a criança nascesse ali, no
tráfego. Felizmente chegamos bem. O Dr. Décio Noronha, o obstetra, estava a
nossa espera. Eram quarto e meia da tarde. A Deborah estava tendo contrações
constantes. O trabalho de parto estava tão adiantado que, imediatamente, ela
foi encaminhada para sala de partos. Permitiram que eu entrasse e ficasse ao
lado dela. Quinze minutos depois, exatamente as quinze para as cinco, a criança
nasceu. De onde estava, no momento que o médico tirou o bebê, e na posição em
que o segurava, a primeira coisa que vi foi o sacão escuro pendurando.
Fui tomado de extrema emoção.
Quando o médico passou o nosso filho para a enfermeira, e ele começou a chorar,
eu quase o tirei das mãos dela.
Quando percebi estava chorando. Era
um choro solto e intenso, mas, e daí?
Olhei para a Deborah e vi que ela
ainda transpirava. Ela falou:
− Vamos chamá-lo de Rodrigo?
O que poderia responder, senão
concordar?
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