UMA CORRIDA PARA A
FELICIDADE!
Carlos Cedano
Corria descontraído pelo
parque naquela manhã. Era um dia muito esperado, três anos de namoro com Reine
com tanto amor e numa harmonia que beirava a perfeição. À noite sairíamos pra
jantar e depois dançar, mal podia esperar!
No meu trajeto minha
felicidade parecia contagiar tudo e todos. Além do céu azul e um sol
resplandecente, cada pessoa com a qual cruzava parecia pressentir minha alegria
e via todos sorrindo pra mim! Os Deuses
do Olimpo foram generosos, tudo convergia para um dia inolvidável!
Continuei correndo em bom ritmo
e não me sentia cansado, parecia estar flutuando, mas foi justamente nesse
momento que ouvi gritos agudos e desproporcionais:
— Roberto,
Roberto!
Como me chamo Roberto,
virei instintivamente, porém o que vi me deixou paralisado. Vi outra vez aquele
rosto, aquela figura que eu não suportava!
Uma presença sempre acompanhada por uma aura preta, uma figura nefasta, o mal
em pessoa! Gilberto, esse era seu nome, ex-colega de trabalho. Achava que nunca
mais o veria na minha vida! Na firma todos fugiam de sua presença, como o diabo
foge da cruz! Era considerado um engenheiro medíocre, mas sempre se queixava
que seu talento não era reconhecido pelos chefes, que só promoviam pessoas sem capacidade.
Seus comentários sobre os colegas eram sempre destrutivos e revelavam uma
inveja insana! Não se enxergava!
Mas, o pior de tudo era sua
capacidade para localizar os pontos fracos das colegas, e quando por algum
motivo invejava alguém ou o considerava como futuro rival atacava fundo e sem
piedade! Foi assim com Samuel, rapaz
calmo, gentil e brilhante calculista, que já era bola cantada para a próxima
promoção!
Como Samuel tinha
propensão para engordar, fazia muita academia, alimentava-se com refeições de
baixas calorias, tomava remédios para emagrecer e estava sempre à procura de
novas formas de manter o peso! O coitado quase não comia, parecia engordar até
com o ar que respirava. Numa crise de ansiedade aumentou de peso a olhos vistos,
e Gilberto não perdeu a oportunidade.
Samuel começou a receber
bilhetes supostamente enviados por Susy, uma menina pela qual arrastava um bonde. Neles ela o descrevia como descuidado
e desleixado: “Não gosto mais de você
gorducho!” Foram palavras devastadoras! Suspeitamos que não era ela quem os
enviava, e com o tempo depois se comprovou. Ele entrou em depressão e mandou o
regime alimentar para o espaço!
Outra situação, das muitas
que levantaram suspeitas sobre Gilberto, foi à festa do amigo secreto no
Natal. Ele sentia forte atração por uma
secretaria de gerente, Marcia, menina legal, querida por todos e que já
namorava firme um colega da empresa, era Vox Populi que teríamos casório e até
se dizia que já estavam montando o ninho de amor!
Quando na festa a moça
recebeu um segundo presente de amigo secreto e começou abri-lo, parou de
repente, ficou pálida e o deixou-o cair deixando seu conteúdo exposto aos olhos
de todos, ela saiu da sala correndo e chorando, por sorte outra colega o pegou
e foi consolar a amiga. Foi uma grosseria imensa que levou a moça a pedir
férias para se recuperar.
Houve reclamações do
namorado e dos colegas, Gilberto foi despedido com o argumento de redução de
despesas, e a situação foi rapidamente esquecida!
Todas essas lembranças
passaram rapidamente pela minha cabeça Justamente quando Gilberto iniciava suas
críticas ácidas contra mim consegui inventar na hora uma mentira e,
interrompendo-o, perguntei pra ele:
― Qual é teu nome?
― Gilberto! Você não está me reconhecendo? Retrucou ofendido.
― Acho que você está me confundindo com meu irmão Roberto
Luís que é engenheiro. Eu me chamo Roberto Mário e sou artista plástico.
― Mas você e igualzinho a seu irmão sem tirar nem pôr! Disse
ele com o ar de suspeita.
― Evidente meu senhor, somos gêmeos idênticos!
E antes de qualquer reação
dele retomei a corrida, não ia estragar o dia mais feliz de minha vida com esse
cretino!
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