QUAL SONHO?
Jeremias Moreira
Uma
página do jornal Folha de São Paulo de hoje, domingo, 04 de outubro de 2015, traz
um anúncio para vender a Coleção Folha Grandes Pensadores, com a frase,
atribuída a Carl Marx: “Ele sonhava com
um mundo onde todos fossem iguais”.
Assim
como Marx, Martin Luther King teve o sonho de uma sociedade livre de
preconceitos em que os negros dos Estados Unidos tivessem os mesmos direitos
que os brancos.
O
verbo “sonhar” usado, nas suas respectivas conjugações, nos exemplos acima, tem
a conotação de desejar, almejar. É metáfora de ambicionar.
Essa
conotação de “sonhar” não só é humana, como usual. Todo mundo tem um “sonho”.
Seja a aspiração de uma ótima carreira profissional, a de encontrar a pessoa
amada, ou o simples desejo de assistir a um show de um ídolo ou ver a partida
de futebol de seu clube preferido. Enfim, alcançar os objetivos que
pretendemos.
Já para a ciência, “sonho” é uma experiência de imaginação do inconsciente durante nosso período de sono. Para Freud, os sonhos, enquanto dormimos, são gerados
na busca pela realização de um desejo reprimido. Também,
visto por esse prisma, o sonho não é privilégio de ninguém, pois qualquer um
sonha.
A diferença é que, enquanto no
primeiro caso temos domínio sobre o que queremos, ou melhor, esse “sonho” é
resultado de nosso arbítrio e para que isso se realize temos que ir atrás, seja
lá o que isso signifique, no segundo, o nosso consciente não domina. É uma
manifestação inconsciente e, aparentemente, arbitrária. Não conseguimos
programar o que sonhar. Ou se programamos não temos consciência.
Quando estava no primário havia uma
menina na minha classe por quem me apaixonei perdidamente, tanto quanto uma
criança de sete anos pode, verdadeiramente, se apaixonar.
Sandra era seu nome. A Sandra era
meiga, olhos de amêndoas, pele macia, cabelos pretos escorridos e curtos, que
deixavam à mostra seu rosto delicado e tão bem moldado pela natureza.
Eu ia muito ao cinema e assistia aos
filmes de cawboy, tão em voga na época. Quando chegava a casa, colocava o
pijama e ia pra cama, imediatamente meu pensamento procurava pela Sandra e a
transformava na heroína do meu sonho. Ficava um tempão elucubrando um enredo,
semelhante ao do filme que acabara de assistir, onde nós dois éramos os
protagonistas. No final eu sempre era o herói que a salvava do perigo.
Não sei se isso era sonho ou
divagação, mas são as lembranças que tenho do que seriam os meus primeiros
sonhos.
Claro que a Sandra nunca soube que foi
minha partner em inúmeras aventuras idílicas infantis.
O sonho − como metáfora de expectativa
− se desfez quando fomos para o ginasial. Eu continuava a mesma criança − um
pouco maior − enquanto Sandra, agora uma garota, com peitinhos e tudo, atraiu a
atenção dos garotões mais velhos.
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