MEU DIA DE GOLEIRO - Jeremias Moreira

MEU DIA DE GOLEIRO
Jeremias Moreira

Um dia uma onda de insegurança tomou conta de mim, e de repente duvidava de minha competência, e das verdades de minha vida.

Aconteceu numa noite de fevereiro de 1963, dia que o Jaboticabal Atlético foi a Ribeirão Preto,  jogar contra o Botafogo como pagamento do passe do zagueiro Antonio Julião.

Nos meus dezessete anos, era o goleiro do time juvenil. O Bonelli, o titular do time principal, contundiu-se e eu fui relacionado para ser o reserva.

Entramos em campo e, surpreso, fui contemplado com um abraço do Tirí, ídolo do Botafogo, assim como fora no Jaboticabal há cinco anos, época que iniciei na posição. Ser reconhecido e estimulado por ele, a quem também idolatrava, foi um grande incentivo.

Apesar de amistoso o jogo foi disputado com muita garra por ambos os times.

A partida caminhava para o final, o placar marcava um gol a zero para o Botafogo, quando o Manzato, o nosso goleiro titular nesse dia, se machucou.

O professor Gonçalves, nosso técnico, olhou para mim e ordenou que me aquecesse.

Tremendo igual vara verde, comecei a rezar para que o médico sinalizasse  que estava tudo bem com o Manzato. Mas, o sinal foi de substituição!

Apavorado, com as pernas travadas, quase não consegui chegar ao gol. Mas, aí aconteceu o inesperado: o Tirí correu ao meu encontro e me deu a maior força.

Não sei se o gesto dele foi uma indicação aos seus companheiros, mas o fato é que, nos minutos restantes, o Botafogo não chutou nenhuma bola perigosa.
Foram apenas chutes colocados, do tipo que dá moral para o goleiro.

E, o jogo terminou um a zero.

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