A CADEIRA DE BALANÇO - Jeremias Moreira



A CADEIRA DE BALANÇO
Jeremias Moreira

Zé Costa passava tanto tempo dormindo na cadeira de balanço que até deixou dois sulcos no piso de concreto da beneficiadora. Em tom de piada, essa situação absurda corria pela vila.

Quando Armando Costa morreu deixou a Beneficiadora de Cereal Progresso de herança para o filho. Antes o tivesse preparado para enfrentar as agruras do dia a dia e não viver na flauta, como sempre fizera.

Zé Costa, ou Zezinho para sua mãe, nunca pegou no pesado e nem quis saber de estudar. Sempre gozou a vida, desde que não desse muito trabalho. 
Pra que trabalhar se tenho tudo?” − pensava.

A conta da indolência chegou quando se viu a frente dos negócios. Não entendia nada de nada e não tinha o menor ânimo para aprender.

Mas, encontrou uma solução: chamou Tonico Bastos para gerenciar a empresa.

Tonico era um trator e de cara pôs-se a visitar os antigos clientes e prospectar novos. Deu resultado. Os negócios voltaram a prosperar. 

Enquanto isso, Zé Costa passava os dias com a bunda na cadeira de balanço. Tirava longos cochilos e mal tinha disposição para examinar os relatórios que Tonico apresentava. Só se interessava pelas retiradas, que ocorria quase que diariamente.

O outro não demorou em perceber que os clientes eram seus e não da empresa.

Manhoso, decidiu que não passaria a vida trabalhando para Zé Costa.

Exigiu uma mudança na relação de trabalho e apresentou uma proposta de arrendamento da beneficiadora. Zé Costa apenas conseguiu entender que, se não aceitasse ficaria na mão. Sem alternativa, aceitou.

Rolo compressor, Tonico atropelou a concorrência. Modernizou a empresa, comprou novos maquinários, mas investia sempre em seu nome.

Com o passar dos anos restou a Zé Costa apenas o imóvel, que Tonico não tomou de pena. E, ele  passou a viver desse aluguel.

Com a ilusão de que ainda era sócio, todos os dias comparecia na beneficiadora. E, tirava seu cochilo na cadeira de balanço.


Nenhum comentário:

Postar um comentário