Inshallah - Vera Lambiasi Vera Lambiasi


Inshallah                                                                                                      
Vera Lambiasi

O show do Hotel Mamounia, em Marrakesh, começaria em cinco minutos.

Odaliscas invadiriam o pequeno tablado, ao lado do restaurante, onde os comensais, satisfeitos, degustavam o chá de menta.

Fuad não se aguentava de curiosidade. Fora avisado que sua musa, Sania, apresentava-se ali todas as sextas.

Lembrava-se dela menina faceira, correndo pelo bazaar. Na época, suas sobrancelhas fanfarronas piscavam com apetite a ele, um jovem casado.

O tempo passou ligeiro, Sania havia atravessado o Gibraltar, fora trabalhar no velho mundo, fugindo da repressora família.
E agora voltava à terra de origem.

Atrás da cortina avistou Fuad na plateia.

Ele suava.
Ela tremia.
Ele, viúvo.
Ela, sofrida.

Sentado numa mesa escondida, viu entrar Sania, mulher madura.
De cima do palco, alcançou Fuad, petrificada.
Longo espetáculo, e um jogo de olhares interminável.


Já no camarim, gargalhadas gostosas prenunciavam um caso amoroso.

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