EM BUSCA DO OURO - Jeremias Moreira



EM BUSCA DO OURO
Jeremias Moreira

Um sol oblíquo, espelhado pela água barrenta, como raio de fogo atingia os olhos de Torquato e provocava forte ardência. Insensível ao desconforto ele levantava a bateia, por vezes sem conta. Esperançoso, deixava a água escoar, examinava o restolho e, a cada vez, nada!

Tornou-se um blefado, que há vários dias não conseguia uma simples pepita.

A conta corrente com o empreiteiro estava nas alturas e cada dia, como o de hoje, só fazia aumentar.

Filho de Benevides e de Cinézia, vinte e cinco anos, alto, espigado, cabra forte e sacudido, cor de bronze curtido pela lida de gado no sertão árido da Bahia e destaque nas vaquejadas, Torquato ficou embriagado com a fantasia de riqueza, “espalhada como mato”, que lhe pintou o recrutador. Nem se despediu da família. Dali mesmo, enturmado, embarcou no Caravan Cesna e voou com destino a Mamoré.

Na chegada soube das regras do garimpo: tinha direito a dez por cento do que extraísse, fosse ouro ou diamante. Despesas com pousada e mantimentos seriam abatidas dos ganhos. As com mulheres, do seu livre entendimento. Briga, gerava punição. Roubo, morte. Endividado, não deixava o garimpo.

Três meses naquela vida foi o suficiente para entender que fora iludido e se tornara escravo. Precisava por um fim nisso!

Mas, como? Sair dali apenas de avião ou de barco.

Pôs-se a matutar um plano de fuga. Concluiu que de barco, nem pensar. Poderia muito bem ser alcançado. E, aí, baú...baú! Teria que ser de avião!

O cheroquinho do rancho vinha uma vez por semana deixar suprimentos e levar o extraído.

O único jeito seria raptar o piloto e obrigá-lo a voar para bem longe.

Até lá, devia ficar na moita. Agir como se estivesse tudo na boa.  

Sorrateiro, depois do rancho da noite tratou de afanar um facão e esconder.
Dois dias depois o pequeno Piper apontou no horizonte.

Cauteloso, Torquato deixou seu barranco, embrenhou-se no mato e procurou uma estiva que levasse ao campo de pouso. Avistou o avião, rastejou até ficar próximo e pôs-se a espera.

Se percebessem sua ausência, já era! O tempo passava e nada do piloto.
Quase não continha a ansiedade. Agora, era tudo ou nada!

Tempão depois o aviador apereceu na picada. Deus seja louvado!

Vinha só, mas tinha uma arma na cintura.

Torquato esperou que o homem abrisse a porta do Piper e deu o bote. Agarrou-o pelo pescoço, o facão na garganta, tirou-lhe o revolver e apontou para o rosto. Senhor da situação, deu a ordem:

− Tire esse avião daqui o mais rápido senão encho tua cara de chumbo!
O piloto manteve-se sereno e procurou acalmar Torquato:

− Por mim tudo bem, mas eles não vão descansar enquanto não te encontrar!

− Entra, liga esse troço e me tira daqui! O resto é problema meu.

O Piper levantou voo e quando estava no ar Torquato se deu conta de não saber para onde ir. O piloto poderia muito bem enganá-lo. Mas, não foi o que fez:

− Olha, não tenho nada com os assuntos da companhia, mas não posso deixar de relatar o ocorrido senão o pepino vira pro meu lado. Vou te deixar em Porto Velho e lá você procura a base aérea e pede transporte pelo Correio Aéreo Nacional para onde quiser. − orientou o piloto.

E assim fez. Na base aérea Torquato contou seu drama a um Major da aeronáutica que lhe deu abrigo. Uma semana depois estava a bordo de um Bandeirantes do CAN com destino a São Paulo.

Depois iria a Barretos. Ainda sonhava em buscar o ouro, desta vez, na montaria de touro na famosa Festa do Peão!


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