WORKAHOLIC - Jeremias Moreira




WORKAHOLIC
Jeremias Moreira

O telefone tocou. Danilo deixou a régua de cálculo de lado e atendeu.

— Você pegou o Pedro na escola? - ouviu a voz avinagrada de Beth.

— Não! Não! Hoje é seu dia. – respondeu.

— Aqui na escola disseram que o Pedro saiu com você!

— Hoje é quarta feira, Beth. Dia que o Pedro vai para sua casa. Por que eu o pegaria?

— Se não foi você, então quem pegou?

— Como assim, quem pegou? O Pedro não está na escola?

—Aquela servente, que parece um carcereiro, disse que você veio buscá-lo.

— Essa mulher não está batendo bem. Veja isso direito porque não foi comigo que o Pedro saiu.

Desligaram! Preocupada, Beth foi conferir na secretaria. A coordenadora havia saído e ainda não voltara. Danilo também se agitou. De repente lhe veio à mente o sujeito que estava sentado na mureta da escola quando foi levar o Pedro. Ele até o cumprimentou, quando entrou e quando saiu, pensando que fosse o pai de algum aluno. Mas achou algo esquisito nele, que na hora não deu importância.  Ligou para Beth:

— E aí? Você falou com a coordenadora?

— Ela saiu e não voltou. Conversei novamente com o carcereiro. Disse que, por ser véspera de feriado a saída foi muito confusa. E que não tinha certeza se foi você quem pegou o Pedro.

— Ela sabe se foi homem ou mulher que o pegou?

— Não! Ela não sabe. Já aprontei um salseiro aqui. Tá todo mundo empenhado em saber o que aconteceu com o Pedro e em localizar a coordenadora. A tarde foi punk na Agência, eu tive uma reunião pesada que se arrastou além da hora, e cheguei na escola um pouco atrasada e...  O Pedro já tinha saído com alguém.

— Por que você não me ligou? Eu poderia buscá-lo.

— Pronto! Lá vem você com acusação. Sempre sou eu quem paga o pato! Como se você nunca tivesse se atrasado. Você sabe que isso acontece. E, nesses casos a escola fica com a criança na secretaria até que alguém venha apanhá-la.

—Olha Beth, não faça teatro porque não estou te acusando de nada. O que importa agora é achar o Pedro. Saber o que aconteceu com ele. Por acaso tem um homem de camisa xadrez sentado aí na mureta da escola?

— Não! Não tem mais ninguém aqui. Só eu. Ah!... E a secretária e o carcereiro que estão tentando localizar a coordenadora. Mas, o que tem esse homem de camisa xadrez? Por que você falou dele?

— Nada! Nada! Estou indo para aí!

— Danilo! O que tem esse sujeito de xadrez? Danilo? Danilo? – Ele desligou e Beth entrou em parafuso  - Merda, o que tem a ver esse cara de xadrez?

Beth voltou para a secretaria. O coração apertado e a cabeça explodindo. Ainda não haviam localizado a coordenadora. Seu celular só dava caixa postal.

Em instantes Danilo chegou. Emprestara a moto do sócio e viera rápido como um foguete.

— Então? Alguma notícia?

— Porra nenhuma! Porque você falou do homem de camisa xadrez?

— Não sei! Quando deixei o Pedro havia um homem sentado na mureta. Pensei que fosse o pai de alguma criança, mas... Não sei... não se encaixava direito. Havia alguma coisa esquisita.

— Se está se referindo a um homem de camisa xadrez, calça jeans e botina preta, sentado na mureta, na hora da entrada, era o Juvêncio, o pedreiro que estava esperando a dona Dulce. – disse a servente.

Nesse instante Dulce, a coordenadora, chegou.

— Desculpem! A bateria do celular pifou. Mas, o que está acontecendo?

— Tá acontecendo que alguém pegou o Pedro! – Disse Beth angustiada.

— Claro que alguém pegou o Pedro! Foi a Camila, mãe da Priscila. – respondeu a coordenadora.

— Como assim? A Camila pegou o Pedro sem nos avisar? – perguntou irritado, Danilo.

— Beth... Beth! Você está de cabeça oca?  Eu te liguei por volta das quatro da tarde perguntado se o Pedro poderia ir ao aniversário da Priscila e você concordou. Lembra?

A Beth ficou lívida. Depois de um tempo em silêncio:

—Puta merda! Esqueci total! – e começou a chorar, um pouco pelo estresse, um pouco pelo alívio.


Danilo achou melhor não comentar. Também estava aliviado.

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