Sonhos não se compram
Flávia
Smith
Numa
pequena cidade do interior, daquelas que quando passa um forasteiro os
habitantes transbordam de curiosidade. Era um daqueles tantos domingos que
transcorrem lentamente, quando aparece um “vendedor de sonhos”.
Dona
Raimunda, honesta mulher, mas a mais
abelhuda e bisbilhoteira do povoado, logo percebe o estranho indivíduo e aproxima-se
dele:
- Bom dia senhor! Veio por conta do quê neste vilarejo
parado feito água estagnada?
- Vim realizar sonhos, para trazer vida, a este
marasmo que vejo por aqui!
-
Ah! E como?
-
Simples, diga qual é o seu desejo, e preparo um elixir.
Dona
Raimunda - mulher honesta, mas abelhuda e bisbilhoteira - querendo ser a primeira de todos e com
exclusividade a receber tamanha maravilha leva-o até sua casa.
-
Senhor, diz ela - quero encher todos
meus bolsos de dinheiro. E rápido!
Ele
abre sua maleta, tira dela algumas ervas, faz um xarope pede para Dona Raimunda
se acomodar na cadeira de puída balanço,
dá-lhe a poção para beber, e a
hipnotiza.
Em
poucos minutos ela já entorpecida sai calmamente pela porta de casa, aproveitando a hora da missa, entra nas
casas vazias: abre gavetas, rouba nas latas enferrujadas dinheiro, moedas, os poucos objetos de valor. Sorrateiramente, vai de uma casa à outra,
sente-se feliz, canta, dá risadas descontroladas, os poucos passantes
cumprimentam-na, mas ela segue indiferente seu caminho.
Chegando
em sua casa, com os bolsos abarrotados de bens saqueados, e ainda inconsciente
entrega tudo ao “vendedor de sonhos” que ansioso a esperava com a maleta aberta,
e que
a encheu num pestanejar, partindo a galope, rasgando o vento.
Dia
seguinte manchete no diminuto jornal da cidade: “enquanto o povo rezava, após
um sermão que falava em gratuidade e doação, fatos estranhos ocorreram na nossa
cidade, o diabo deve ter se aproveitado do sentimento de benevolência dos fiéis
e recolhido a sua própria “esmola”, e pior é que Dona Raimunda, a famigerada “zeladora” do povoado, tornou-se silenciosa e
recatada”
Mas...
Conforme palavras do “vendedor de sonhos” a apatia do lugar é substituída por
um grande alvoroço e união à procura de uma aclaração!
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