O
Rolinha
Fernando
Braga
Este
era seu apelido, por gostar de matá-las com estilingue para fritá-las.
Tratava-se de uma figura diferente, sui generis. Era bem conhecido na cidade
interiorana como corajoso, brigão, um cavalo ao jogar futebol, mas boa pessoa e
mais do que isto, confiável.
Certa
feita, Rolinha chegou em casa e presenciou seu pai batendo em sua mãe, o que o
levou a segurá-lo e de um golpe jogá-lo pela escada abaixo. Não gostava de
estudar, mas conseguiu ir até o segundo ano ginasial. Na cidade tinha muitos
amigos, às vezes fumava maconha, o que era raro na época, e fazia alguns bicos.
Dizia ler Aldous Huxley, o que ninguém acreditava, mas gostava de filosofar um
pouco.
Aos
30 anos, ainda morando com a mãe, seu pai havia morrido, arrumou o emprego de
porteiro em um clube da cidade, onde o forte era a jogatina. O jogo já era
proibido, mas... Logo foi transferido para o salão de jogos, onde além de ser o
cacifeiro, servia os frequentadores do carteado com bebidas, cigarros e
pequenos lanches. As gorjetas fluíam.
Ficou
uns cinco anos neste emprego, teve que sair por ter cantado, com êxito, algumas
mulheres que também jogavam. Mas, deu na cara, e o presidente ficou sabendo.
Namorou
a filha de um ex-prefeito e acabou casando-se. Logo teve um filho. Mas,
desajustado em todos os empregos que arrumava, começou a jogar baralho no
clube, ganhando no começo e perdendo tudo no final. Separou-se da mulher e foi
embora para Cacilândia em Mato Grosso, onde aceitou um emprego rural, cuja
função precípua era ficar atento, para que invasores, não ocupassem a terra.
Andava o dia todo a cavalo, portando uma Winchester 22, rodeando a grande
propriedade. Ganhava relativamente bem para desempenhar esta função, como de um
policial.
Certa
feita, algumas famílias miseráveis invadiram uma área da fazenda e lá colocaram
umas cabanas. Rolinha ao deparar com a invasão, chamou os chefes, e disse:
—
Vocês podem cair o fora. Se amanhã eu passar por aqui, vou começar a atirar,
começando pelas criancinhas! Vendo a disposição e a cara de mau do Rolinha,
acreditaram, e no mesmo dia partiram. Seu patrão ficou muito contente e
aumentou um pouco o seu salário.
Dormia
à noite em uma pequena pensão na cidade, onde a cama era limpa, o café da manhã
bom. E mais, começou a namorar Cacilda, a proprietária. Ela era bem mais idosa,
com mais de 50 anos e não era nada bonita, pelo contrário. Mas adorava sexo!
Ele referia para os amigos que à noite, se deitava nu e dizia a ela:
—
Agora pode fazer de mim o que quiser! E ela fazia! Com isto não pagava mais a
pensão, e ao chegar no fim da tarde, sempre tinha uma comidinha quente e bem
preparada.
Tudo
ia bem, até que conheceu uma sobrinha de Cacilda. Rolinha logo se interessou
por ela, que era moça e bem vistosa. Passaram a ter um quiproquó, até que a tia
percebeu e teve certeza do que vinha acontecendo. Expulsou-o de casa e não sei
o que foi feito com sua sobrinha. Além disso, sendo uma mato-grossense arretada
e vingativa, contratou três jagunços para acerta-lo. E acertaram mesmo,
chegando a mutilá-lo de tanto bater.
Teve
que voltar para sua cidade natal e lá foi confirmada pelos médicos, uma
insuficiência renal, consequência das pancadas nos rins ou de uma nefrite aguda
não diagnosticada. Com os rins funcionando mal, inchaço no corpo, pressão alta,
começou a fazer diálise diariamente.
Graças
a um médico de São Paulo conseguiu fazer um transplante renal que funcionou
temporariamente e nesta fase boa, conseguiu novamente urinar.
Quando
alguém lhe perguntava como iam as mulheres, ele dizia:
— O
que é isto meu amigo, nada mais de sexo, o que mais desejo agora é urinar
pelo...
Após
a rejeição renal, voltou para a diálise e ficou totalmente largado, sem forças
para qualquer coisa. Sua mãe já havia morrido e quem o socorreu foi seu filho,
agora casado. Sua nora cuidava dele, com carinho.
Certo
dia sumiu de casa. Pegou uma condução para Cacilândia e foi direto à pensão de
Cacilda.. Enfiou-lhe um 38 na boca e disse que queria saber o nome e o
paradeiro dos bandidos que o haviam atacado. Ela então, além de confessar o
mando, dedou os bandidos. Conseguiu mesmo fraco e doente, fuzilar em três dias,
um de cada vez. Passando mal, montou em uma égua e saiu pela estrada, sem
destino. Nunca mais ouviram falar dele em Cacilândia ou mesmo em sua cidade
natal.
Ninguém,
nem a polícia, soube explicar o porquê da morte dos três elementos, friamente
assassinados, com exceção de dona Cacilda, que guardou segredo absoluto, com
medo de ser a próxima. Rolinha sumiu.
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