O
CORONEL ENTROU DE FÉRIAS
Suzana da Cunha Lima
Purgando uns meses sem
emprego fixo, o engenheiro aceitou um
trabalho que lhe ofereceram, muito bem remunerado, para implantação de uma nova
fábrica de produtos químicos. Era de uma firma já existente, que desejava
otimizar espaços e máquinas ociosas, aproveitando o mesmo amplo local onde já funcionava há alguns anos, com produtos
similares..
Ficou animadíssimo, porque
não só era sua especialidade, como se apresentava também, uma oportunidade de, mais tarde, ser o gestor dos
negócios. Em sua santa ingenuidade,
pensou que seria um processo relativamente simples, pois o dono era o mesmo,
desconhecendo que ia transitar meses a fio num emaranhado de papéis, exigências
e comprovações de toda espécie,
navegando na terrível burocracia brasileira.. Até parecia que iam
fabricar uma bomba atômica, pensou.
Afinal, depois de tudo
sacramentado, carimbado, selado, juramentado e todas as etapas queimadas, junto
com sua paciência, deparou-se com uma exigência do Exército: era necessária
autorização para transporte e manuseio de alguns daqueles produtos, no entender
dos peritos, perigosos e inflamáveis.
A matriz, no exterior,
cansada e surpresa, não queria acreditar naquilo. Informou ao
novo contratado que, caso não obtivesse a autorização, daria aquilo tudo
por encerrado. Iria procurar um país
mais inteligente e moderno, que percebesse a enorme criação de empregos que a
fábrica iria gerar, tanto diretos quanto indiretos e quantas divisas o país
poderia salvar, fabricando produtos que até então eram importados.
O engenheiro, no auge do
desespero e decepção após tantos meses de trabalho insano, agilizou os papéis e
documentos necessários, até que,
finalmente, estava com a autorização na mão. Prontinha, preparada segundo o
padrão do próprio Exército, com todas as especificações e ressalvas. Tudo
dentro da lei. Só faltava a assinatura de um coronel, encarregado deste setor,
conforme ele havia sido informado. Deu a notícia à matriz e à sua equipe que
respiraram aliviados e foram providenciar a champanhe. Era caso de comemoração
mesmo!
No dia combinado ele se
apresentou na repartição competente, perguntando pelo coronel, com a pasta de
documentos na mão.
A assistente olhou
aquilo na mão dele, e informou:
- Ele não está. O senhor
marcou horário?
- Sim senhora, há mais de
quinze dias, e disseram-me que na quarta, é o melhor dia.
- Realmente, quarta-feira
é um dia válido. Mas, não vai dar porque o coronel entrou em férias.
- Férias!!! O engenheiro
sentiu o coração disparar – Bom, ele sabia do que se tratava, então deve ter
deixado um substituto. A senhora pode
chamá-lo?
- Não tem substituto. Só o
Coronel pode assinar este requerimento.
- Como não tem substituto?
Minha senhora, estou há meses tentando
regularizar esta papelada. Só falta a assinatura do coronel. Eu avisei que
vinha aqui para isso. Deve haver outro oficial que possa assinar, este papel
foi redigido pelo próprio Exército, é rotina.
- Eu sei, senhor. Mas, o
que posso fazer? O coronel está de férias.
Ele engoliu em seco,
contou até dez e aí perguntou:
- E para onde ele foi?
A moça olhou para um
cartão postal preso na sua agenda, na mesa e disse:
- Para o Caribe, tem
quatro dias já. Até mandou um cartão para nós.
O engenheiro pegou o cartão perguntando:
- É assim que ele assina
os documentos?
- Assim mesmo.
- É este o carimbo dele?
-É sim senhor, mas o
senhor não está pensando em...
- Não estou pensando,
estou fazendo. – sentou-se na beirada da mesa e assinou a autorização imitando
a assinatura do coronel com maestria. Depois carimbou no lugar certo, como
havia notado nos documentos que estavam na mesa.
- Perfeito! E informou à
moça estupefata:
- Se der algum galho, eu
não estive aqui e você nunca me viu. Na
verdade, eu também estou de férias.
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