A TURMA DO TABOCAS
Jeremias
Moreira
Rrooaahh; Nnhhéécoo;
Catchuatchum; Splanqtepum! repetia compassado o monjolo para derramar a
água acumulada na concha, e em seguida
voltar
para socar o pilão.
–
Iiihhppiii! – Agora sou eeeuuu! – Aahiôôôô! gritavam alternadamente o Pança, o
Geninho, o Tota, e a Gina naquela tarde ensolarada em que exploravam as
inúmeras possibilidades de divertimento que o monjolo oferecia.
A cidade crescera até alcançar as casas da
antiga colônia do que fora a Fazenda Primavera. Além da colônia e do monjolo,
permanecia um pedaço de mata virgem. Esse era o lugar preferido da turma do
bairro Tabocas fazer algazarra. Ainda
pequenos, Fefeu, Xavinho e Lena ficavam no barranco só olhando a farra dos
maiores. Descontentes por sempre ficarem de fora resolveram que era hora de
participar das brincadeiras.
--
Vocês deixam a gente brincar também? -- perguntaram timidamente.
--
Deixamos! -- apressou-se o Pança.
--
Esperem um pouco. Eles são muito pequenos. Não dá para brincar com a gente!--
ponderou o Geninho.
-- É isto mesmo! Só se eles passarem pelo
teste da coragem! -- acrescentou Gina, dando uma piscadela sacana para Geninho:
-- Vocês topam?
O
Fefeu olhou para o Xavinho, que olhou para a Lena, que olhou para o Fefeu.
Nenhum deles sabia como que era este tal de teste da coragem, mas os três
responderam decididos:
--
Topamos!
Geninho
entrou na onda da Gina e acrescentou:
--
Só que este teste será um pouco diferente. Vocês terão que entrar na
Mata-Escura e procurar a Fábrica Mágica de Jogos Eletrônicos e trazer quatro
joguinhos dos gladiadores intergalácticos. Um para cada um de nós.
E
a Gina zoando mais ainda:
--
Bem... já vou alertando, hein! Nunca alguém que entrou na Mata-Escura conseguiu
voltar!
Agora
foi a vez do Tota:
--
É que lá, mora um bichão gigante, que tem um rugido tão forte... Mas tão forte,
que só de ouvir a pessoa é exterminada na hora!
Ao
saberem daquele bichão gigante, com um rugido tão forte que exterminava as
pessoas os três meninos engoliram em seco. Mas, se quisessem brincar com a
turma no monjolo, não tinham alternativa. Assustados, os três pequenos
confabularam baixinho entre si. Não queriam demonstrar que estavam com medo.
Depois, com a maior cara de coragem, falaram:
-
Tudo bem, aceitamos o desafio! Vamos acabar logo com isso!
Dirigiram-se
todos para a entrada da mata. A garotada chamava de Mata-Escura porque era
formada por enormes árvores que tinham os troncos retorcidos e os galhos
entrelaçados. Além de criar formas assustadoras, a densidade das folhas impedia
a entrada da luz natural.
Chegaram
à entrada da mata, olharam para dentro e viram a escuridão. Os pequenos estavam
se borrando de medo e já não demonstravam a mesma disposição. Os maiores
começavam a sentir pena deles.
De
repente ouviram um intenso rumor de farfalhar de galhos e um barulho forte de
pisadas que vinha de dentro, e que se
aproximava.
Pernas
pra que te quero. Dispararam, sem olhar para trás. Tivessem ficado, veriam
surgir o seu Manoel Lenhador, que voltava com a cangalha do burro carregada de
lenha.
Esse
susto rendeu assunto por muito tempo e contribuiu para aumentar a mística
fantasiosa da Mata-Escura.
Acalmaram-se quando chegaram ao
monjolo. Voltaram às brincadeiras. Os três pequenos foram dispensados do teste
e juntaram-se à turma.
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