EMOÇÃO
Jeremias Moreira
Em Serrinha do Alambari, vilarejo
próximo a Visconde de Mauá, criou-se uma
escola noturna de alfabetização de adultos. Pessoas com quarenta e tantos anos,
e até alguns com mais de setenta, com sede de aprender. Falar sobre as aulas
virou assunto do dia a dia, e até fizeram
disso motivo de brincadeiras uns com os outros.
Ataíde com cinquenta e três, desde que perdeu a
mulher, há três anos, tem levado vida de
eremita no
sítio onde mora. Viu nesse curso uma forma de espantar a solidão.
Nesse povoado, cinema, teatro,
biblioteca, são coisas que só conhecem de ouvir falar. A professora Elaine, que
é extremamente dedicada e motivadora, ao saber que ninguém ali nunca tinha ido
a um cinema, pediu à prefeitura um ônibus para levá-los até a cidade de
Resende, o cinema mais próximo. O filme
escolhido, numa votação, foi "O Menino da Porteira". Assistiram ao
filme como crianças maravilhadas naquele ambiente mágico que só o cinema consegue.
Era o primeiro filme que assistiam na vida. Alguns deles são violeiros e as
músicas do filme viraram repertório das rodas de viola. E o filme, por muito
tempo, fez parte das conversas daquela gente. Ataíde ficou impressionado com o
realismo da cena em que o menino, personagem título da história, é morto por um
“boi sem coração”. Trouxe-lhe lembranças da Rita,
sua mulher.
No dia seguinte, ainda sentia-se
comovido. Foi para a roça, mas não conseguiu se concentrar no trabalho.
Deitou-se na relva, teve um acesso de choro e depois adormeceu. Sonhou com um
universo festivo, onde os astros se perfilavam para receber o menino do filme, que
subia ao céu amparado por sua amada Rita.
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