PÉ NA COVA - Ledice Pereira




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PÉ NA COVA
Ledice Pereira




Como estava difícil encontrar trabalho!

Alfredo começou por procurar serviço de pedreiro. Era o que sabia fazer. Mas a situação estava preta.

Andou pela cidadezinha toda até que deu com uma placa mal escrita na porta do cemitério.

Não era letrado. Fizera até o terceiro ano primário. Conseguia mal e mal juntar as letras e soletrou:

PRECISA UM COVEIRO

Sentiu um arrepio, mas resolveu entrar e procurar a administração.

O homenzinho que o atendeu devia ter um metro de altura. Com seus bracinhos curtos passou a ele uma ficha pra preencher.

Explicou que o coveiro da cidade havia morrido na própria cova.

Alfredo sentiu mais um arrepio.

A porta do lugar bateu ao mesmo tempo em que o vento assobiou.

O anão deu-lhe um sorriso estranho. Faltavam-lhe os quatro dentes da frente.

Alfredo começou a tremer. Nem conseguia preencher direito a tal ficha.

Não costumava ser medroso, mas aquele lugar sinistro o amedrontava.

O papel começou a voar pela saleta. Ele não conseguia pegá-lo de volta.

O homenzinho continuava a sorrir. Um riso enigmático.

Uma gargalhada ecoou pelo local, enquanto a ficha rodopiava, tal qual um pião.

Alfredo sentiu-se enlaçado num abraço gelado.

Apavorou-se. Tentou sair do lugar. A porta estava trancada.

O anão havia sumido. Não havia mais ninguém. Gritou o mais que pôde.

Abriram-lhe a porta, estranhando que estivesse preso ali. Aquele lugar não costumava ficar trancado. Disseram-lhe que eram os coveiros contratados pela Prefeitura. Não havia nenhuma outra vaga para a função.

  Tinham que enterrar um anão indigente, encontrado morto perto dali, no dia anterior.

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