A CURVA DA VINGANÇA - Sérgio Dalla Vecchia




 

A CURVA DA VINGANÇA
Sérgio Dalla Vecchia



Horácio dirigia pela estrada apenas com a intuição, pensamentos confusos distantes, buscavam aleatoriamente o rumo do infinito.

Flora, era o nome de seu grande amor.

Fazia jus ao nome, por ser tão alegre quanto a primavera.

Olhos verdes da folhagem, cabelos da castanheira e personalidade das rosas vermelhas, complementavam a beleza do corpo, de tez morena do jambeiro.

Vez ou outra, Horácio voltava do transe e se deparava com a realidade da paisagem rodoviária.

Surgia novamente a lembrança da desilusão.

Ele foi traído descaradamente pela Flora. Doía demais nele.

Mãos ao volante, acelerador apertado, curvas acentuadas, pneus gritando, derrapagem e o capotamento violento.

O carro invadiu a mata desvairadamente, decepou galhos, amassou folhagens coloridas e depenou arbustos floridos.

A cada vegetal destroçado, a vingativa mente de Horácio apagava um pedaço da imagem de Flora. Assim continuou até que ela sumisse por completo.

O carro, detido pela força da mata, parou deitado de lado junto à um córrego.

Horácio atordoado, com esforço conseguiu sair do assento e arrastar-se até a beira da água corrente. Tinha sede, sangue escorria pela face, e a cristalina água foi o bálsamo.

Refeito do susto, passou os olhos na vegetação em volta e observou uma Hortênsia, a mais linda que seus olhos haviam vistos, foi quando veio à mente a imagem de uma vizinha solteira chamada de mesmo nome que há algum tempo trocou olhares com ele.

O machucado Horácio, animado pela Hortênsia seguiu rumo a estrada em busca de socorro. Pela trilha encontrou a Rosa, a Magnólia, e a Margarida. Quando alcançou a rodovia já era outro homem.

Logo conseguiu socorro.

Pelo caminho de volta para casa, radiante, não via o momento de chegar para continuar sua vingança, cultivando todas as mulheres da Flora brasileira.




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