Nico, o Rei da Paquera - Paulo A Abrahamsohn





Nico, o Rei da Paquera
Paulo A Abrahamsohn



Fim de tarde, hora de happy hour. Nico, um paquerador incorrigível, era frequentador constante de barzinhos, sempre à procura de alguma vítima. Nesse dia entrou no BarToldo. Era um dia especial. Tinha comprado seu primeiro carro. Fez isto para impressionar o sexo frágil e alavancar suas paqueradas. 

O bar era muito chique e logo percebeu um alvo para sua cantada. Bonita, sozinha e vestindo um pretinho básico. Saboreava um drink em um copo alto contendo um líquido rubro como sangue e enfeitado com uma rodela de kiwi na borda. Esta seria a de número 129 do seu caderninho de paqueradas.

— Oi super gata. Posso sentar?

 Sim, claro, disse a jovem.

 Sou o Nico. Chief Administrative Officer da Spheratone no Brasil.

 Prazer, Lucrécia.

 Vou tomar um drink igual ao seu. Venho aqui pela primeira vez.

 Eu sempre venho aqui à tarde, retrucou Lucrécia. Adoro este drink, é o Pecado n. 3.

Pecado n. 3! Oba! Pensou Nico, a coisa está começando bem. Dentro em pouco já estavam íntimos. Lucrécia tinha um bom papo, era vistosa, que mais ele poderia querer.

 Já te falei que comprei um carro? É um Arizona XT, 1000 cilindradas.

 Noooossa! Que demais. Que cor?

 Vermelho Rembrant, um pouco mais claro que o nosso drink.

 Noooossa! É a cor que mais gosto do Arizona, disse Lucrécia. Vamos então tomar mais um drink para comemorar.

 Só que tem um problema. Hoje é 16 de março, ontem foi a posse do Collor. Tudo acima de 50 mil Cruzados novos nas contas bancárias e nas aplicações está bloqueado. Paguei somente a metade do valor do carro e vou ter que devolvê-lo.

 Não, nada disso. Você está se precipitando. Eu sou bancária e hoje de manhã tivemos uma reunião na agência e já encontramos um jeito para os clientes poderem sacar quanto quiserem da conta. Aliás, tenho que voltar rapidamente para a agência para fazer a operação de outro grupo de clientes.

 É mesmo Lucrécia! Como eu poderia fazer isso?

 Bem, vou te contar, mas é super sigiloso. Você tem conta no BNJ?

 Não, disse Nico, minha conta é no Banco República.

 Neste caso preciso do seguinte: um cheque em branco assinado, mas cuidado, coloque a data de antes da posse do Collor, escreva 14 de março.

 É prá já, que sorte a minha, disse Nico. Preencheu o cheque e entregou para Lucrécia.

 Hoje à noite já faço a compensação do seu cheque. Agora são 6 e 40. Preciso estar na agência às 7. Amanhã trago o dinheiro, mas tem que ser em notas de 500.

- Sem problema Lucrécia. Deixe que eu acerto as nossas contas do bar. Beijinho.

 Beijinho Nico. Amanhã quero passear no seu Arizona vermelho.

No dia seguinte, mesmo bar, mas muito antes da hora, pois Nico estava ansioso. Quase não conseguiu dormir, por causa da tripla vitória: uma super gata, um Arizona e um monte de dinheiro na mão. Resolveu esperar por Lucrécia com um copo de Pecado n. 3. O tempo passava e Nico foi ficando nervoso. Onde estava sua paquera? Depois de longa espera perguntou ao barman.
 Aquela garota que vem sempre aqui, com quem tomei um drink ontem, não veio hoje?

 Não veio. Só que tem uma coisa, ela nunca esteve aqui antes.

Nico caiu em si e percebeu o que acontecera, tinha sido vítima de um conto do vigário.

 Que azar, que besteira que fiz. Sou mesmo um azarado. A bem da verdade, nenhuma das outras 128 paqueras da minha lista deu certo.



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