PEGAR OU LARGAR
Sérgio Dalla Vecchia
Era
um cruzeiro para Buenos Aires partindo do Porto de Santos, S. P.
Navio
lotado de turistas animados para o Réveillon na cidade dos bons ares.
Tudo
pronto, check-in aprovado.
O
capitão, impecável na cabine de comando, ordena ao contramestre empurrar a
alavanca forward, e o grande navio zarpa lentamente, atapetando o mar
com a tradicional passarela de espumas brancas.
Lentamente
singra o mar. Os passageiros felizes, espalhados pelo convés, abanam as mãos
despedindo-se de quem ficou em terra, enquanto a rotina da tripulação avançava
a pleno vapor pelos bastidores.
Nico
era um dos garçons que atendia o imenso restaurante com quatro turnos de
refeições, dois para o almoço e mais dois para o jantar.
O
trabalho era exaustivo, principalmente para o novato Nico, em se tratando de um
navio daquele porte.
Ele
como bom nordestino simpatia não lhe faltava, alegria e boa conversa eram
consequência.
Assim,
com seu jeito desinibido passou com louvor pelo primeiro dia de viagem.
No dia
seguinte, já estava se engraçando com uma bonita passageira. Fazia de tudo para
vê-la sorrir. Esgotou até o estoque de bichinhos, que fazia muito bem com
guardanapos.
A
moça abria um lindo sorriso a cada graça do entusiasmado Nico. Os encontros nas
refeições estavam cada vez mais desinibidos, até que com muita coragem, ousou o
apaixonado garçom, convidar a moça para um encontro no convés, após os
serviços.
Quando
sussurrou o convite num dos ouvidos dela, sentiu imediatamente a reciprocidade
pelo arrepio que nela causou.
Terminado
o trabalho, ele voou para seu alojamento para um banho e vestir-se com a melhor
roupa. Abriu um frasco de perfume lacrado que o acompanhava há tempos, mas
nunca teve uma oportunidade de usá-lo. Agora chegou o momento.
Eram
23h em ponto quando os olhos de Nico encontraram os olhos dela, que da amurada
do convés o convidavam para o amor.
Um
longo beijo aconteceu. Nico estava nas nuvens de tanta felicidade. Nunca foi
tão correspondido por uma moça como agora. Ainda mais pertencendo a uma classe
social mais elevada que a dele.
Risadinhas,
carícias, outro beijo e o amor crescendo. Nico precisava levá-la para local com
privacidade, mas onde?
A
moça percebendo a situação e que era o momento de privacidade, convidou Nico
para ir ao seu camarote beber um champagne.
Ele,
mesmo desconfortável com o convite, não tendo uma saída, de pronto aceitou.
Lá
chegaram, Nico nunca havia estado num camarote antes. Era no andar superior,
com vista para o mar, deslumbrante.
Abriu champagne com classe, pois disso ele
entendia. Despejou a dose certa do aveludado vinho espumante em duas taças de
cristal.
Houve
um brinde, dançaram na varanda ao som de Diana Krall e o céu como plateia.
Foram
para a cama, beijos, caricias até que um volume nela o incomodou.
E
agora, pensou Nico com seus botões!
Lembrou
da sua solidão, da vida dura que levava trabalhando. Agora instalado num
camarote com uma linda mulher, bebendo, comendo do melhor e ainda mais
recebendo atenção que nunca teve. Parou para pensar! Analisou bem a situação, e
assim convicto, respondeu para si mesmo.
— Sigo
em frente, não será um mísero apêndice que me fara recuar!
Foi
o Réveillon mais feliz que Nico e Juvenal passaram em suas vidas.
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