APARÊNCIAS ENGANAM - Antonia Marchesin Gonçalves



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APARÊNCIAS ENGANAM
Antonia Marchesin Gonçalves



                Viajando pela estrada do litoral resolvi parar numa encruzilhada que tinha uma vista maravilhosa, estava eu admirando a paisagem, quando parou outro carro e saiu dele um rapaz para fazer o mesmo. Dirigiu-me o olhar e comento “ O verde desta encosta é um verdadeiro jardim que culmina com no final com o mar a perder de vista, lindo você não acha? ”  Eu respondi, “Com certeza, estou encantada”. Começamos a falar e houve certa sintonia à medida que continuamos a conversa, nem percebemos a hora passar.

                Começou a escurecer ele disse, “preciso ir embora, tenho um compromisso importante, aliás, meu nome é Paulo”. Eu, lógico, me apresentei e ele em seguida completou, “vamos nos encontrar amanhã aqui na mesma hora, quero te ver de novo”. Nos despedimos assim, da mesma forma como ele chegou. No dia seguinte, ansiosa não sabia que atitude tomar. Decido arriscar, e fui ao encontro. Durante o caminho a distancia parecia grande, não chegava nunca, mas já à encruzilhada não vi carro nenhum, resolvi esperar, após duas horas de espera fui embora, restou saudade do desconhecido Paulo, que mexeu comigo, foi uma desilusão.

                No dia seguinte estou eu lendo o jornal e vejo em letras garrafais, executivo milionário de uma empresa de construção era suspeito de assassinato de sua namorada e estava foragido, e qual o meu espanto quando vejo a foto, era o próprio, o estranho Paulo que não veio ao encontro marcado. Mas o espanto maior era ele procurado pelo assassinato de uma linda jovem encontrada com os pés e as mãos amarradas, jogada pelo barranco daquela estrada em que eu o havia conhecido. Como trabalho em um grande jornal, resolvi usar a minha influência e pedir ao gerente da seção policial para ajudar-me nessa investigação, pois o meu instinto me dizia que ele não era o assassino, o seu olhar não tinha nada de maligno... Não costumo me enganar com as pessoas.

                Marcos o gerente da área policial conhecia os melhores detetives e bons investigadores, começou então o trabalho em descobrir a verdade. Após duas semanas usando todos os recursos disponíveis, nada conseguimos saber sobre o Paulo ou de sua vida, sumido ninguém sabia o paradeiro dele, sabíamos que tinha uma bela mansão no Jardim Europa, rodeada de um grande e cuidado jardim, muros altos com todo aparato de segurança, inclusive para entrar na mansão, todos passavam por um estreito corredor de ciprestes espessos com câmaras em toda extensão até chegar ao portão principal. Só pode ser da máfia, pensei, mas ele é muito jovem devia ter seus quarenta e cinco anos, um moreno charmoso, não poderia ser o chefão, normalmente são mais velhos, com caras de vovôs bonzinhos, mas verdadeiros assassinos com o sorriso no rosto.

                Nesse meio tempo tive que participar de uma convenção na Suíça, ficaria fora uma semana. Adoro os ares suíços, suas pequenas cidades lindas, principalmente as que ficam em volta dos lagos, são um colírio para os olhos. Instalei-me no hotel e a noite no coquetel de apresentação a grande surpresa, ele o próprio Paulo, elegante e sendo cumprimentado por todos com deferência. Ali era como se fosse uma celebridade.

                Pergunto ao amigo quem era ele, ao que me respondeu, é o Senhor Rogério Gusman, dono e herdeiro de umas das maiores empresas de construção do mundo. Mas, ele é procurado por suspeita de assassinar sua namorada no Brasil, disse eu. Esse caso já está resolvido, não tinham provas contra ele, ele apresentou um álibi gravado em que estava acompanhado de uma jovem na hora do crime admirando a linda vista do litoral.

                 Aprendi que nem sempre se pode confiar nos olhos meigos ou na fala mansa de um homem e nem confiar total no seu instinto. 



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