ASSIM NASCE UM DETETIVE - Sérgio Dalla Vecchia










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ASSIM NASCE UM DETETIVE
Sérgio Dalla Vecchia



Era uma família composta de pai, mãe e um casal de filhos.

O pai policial, mãe dona de casa, Sibele e Gustavo os filhos estudantes adolescentes.

Gustavo possuía uma peculiaridade, era muito observador e curioso, principalmente em desvendar mistérios.

O pai, por vezes, desabafava com a família as frustrações de uma investigação policial. Tinha certeza do culpado de um crime, mas não conseguia colher provas suficientes para que o promotor o indiciasse.

Gustavo ouvia o desabafo e não se conformava com a inabilidade do pai na busca das evidências do crime.

Chegou a pedir a ele para ajudá-lo na busca das provas.

A resposta do pai era negativa.

Dizia que ele era um adolescente, não sabia nada e ademais, não era assunto para menores de idade.

Acontece que o pai desconhecia a capacidade investigativa do filho e muito menos dos livros que lia escondido na calada da noite, versando sobre grandes investigadores.

Na biblioteca secreta de Gustavo havia:

Sherlock Holmes com seu inseparável (sidekick), Dr. John H. Walters
com quem aprendeu muito com a frase de Holmes; muitos veem, mas poucos observam.

Dick Trace, detetive durão das histórias em quadrinhos, personagem do cartunista Charles Gould.

Jane Marple, protagonista de doze romances de Agatha Christie, uma senhorinha que tricotando em sua casa na Inglaterra, desvendava inúmeros crimes. Seu lema era: assassinatos são fáceis de resolver, basta saber procurar o culpado no lugar certo.

Inspetor Closeau da Pantera Cor de Rosa, com suas divertidas investigações trapalhadas, porem sempre assertivas.

Toda essa leitura ensinou Gustavo a ser perspicaz em todos os detalhes na obtenção das provas de um crime.

Desvendava problemas caseiros, como encontrar uma joia da mãe, que sumiu misteriosamente da penteadeira. Ia à fundo até encontrá-la. A paciência e a calma eram suas armas! O resultado era sempre positivo.

Outra ocasião, o pet da vizinha desapareceu do nada. O desespero da família foi imenso; cartazes, avisos na internet e nada.

Para a alegria da dona, Gustavo a encontrou, com direito a beijos e abraços agradecidos.

Certo dia o pai chegou do trabalho muito aborrecido. Houve um latrocínio na casa de um casal que tinha um filho de nove anos.

Roubaram tudo que puderam e fugiram no carro da família. O casal foi brutalmente assassinado e para piorar, o filho desapareceu. A polícia não tinha certeza se os bandidos o levaram.

A expressão de tristeza do pai, fez com que instintivamente Gustavo fizesse uma colocação.

Pai, desculpe minha intromissão, só quero ajudar. Você pode me ouvir?

O pai incrédulo como sempre respondeu negativamente.

Insisto por favor, deixe-me ajudar. - Disse com lágrimas nos olhos.

Sentindo a verdade na voz do filho, o pai condoeu-se e acabou aceitando.

— Pode falar filho, estou amolado demais para não aceitar uma nova opinião, mesmo que seja de um menino.

O filho com a calma de Holmes disse:

— Se fosse eu quem lá estivesse e presenciasse a cena do crime, fugiria no mesmo instante apavorado para meu esconderijo.

— Vocês procuraram por todo o terreno da casa?

— Claro que procuramos, mas não o encontramos.

— Pai, tenho certeza de que o menino está por lá tremendo de medo, escondido no seu lugar secreto, que toda criança possui.

— Me leve até a casa, que eu o encontrarei. - Disse convicto como se encarnasse Dick Trace.

Nessa altura, o pai começou a aceitar a opinião do seu sidekick Gustavo.

— Está bem, filho, iremos amanhã bem cedo.

— Não, respondeu firme Gustavo! Terá de ser agora, não se esqueça que existe uma criança apavorada escondida em algum canto chorando de medo.

Não tendo uma alternativa em vista da convicção do filho, partiram imediatamente em direção à casa da tragédia.

Lá chegando, Gustavo com lanterna em punho foi direto para o quintal da bela casa de classe alta.

Não tinha medo, foi avançando pé ante pé acompanhando o facho da lanterna até que, possuído pelo inspetor Closeau, esbarrou numa bacia de alumínio fazendo um barulhão danado, quebrando o silêncio da noite. Quem mais se assustou foi o pai, que vinha logo atrás. Nisso Gustavo ouviu passos adiante e em seguida um barulho que lembrava um caibro de madeira caindo ao chão. O alerta agora estava ao máximo, o frio coração do pequeno detetive pulsava como nunca.

O facho de lanterna foi avançando até que deparou com uma porção de caibros e tábuas dispostos na vertical, encostados no muro de divisa.

Gustavo agora com a atenção da senhora Marple buscou o lugar certo.

— Só pode ser ali! - Pensou Gustavo com seus botões.

Pai e filho foram se aproximando, devagarinho foram removendo alguns caibros até que deparam com um menino deitado na posição fetal, chorava baixinho e tremia sem parar.

— Graças a Deus, ele está vivo! - Exclamou o policial abraçando imediatamente o menino e cobrindo-o com sua jaqueta.

Gustavo, radiante pelo êxito, abraçou o pai comovido, recebeu um afago e o primeiro muito obrigado do pai incrédulo.

O garoto antes de entrar na ambulância, chamou o Gustavo deu-lhe um grande abraço dizendo:

— Você me encontrou amigo, muito obrigado.

Pai e filho abraçados acompanharam a ambulância até a perderem de vista.

Gustavo foi homenageado na delegacia por todos os policiais.

O sucesso da operação, orientada por um garoto apaixonado por investigações, foi considerado um fato inusitado no meio policial.

Depois de algum tempo, o menino da tragédia, se recuperou do trauma, conseguiu descrever a cena do crime e posteriormente reconhecer, entre vários suspeitos já presos, os verdadeiros  assassinos.

A justiça foi feita.

Assim, daquela data em diante, pai e filho criaram um vínculo de cumplicidade.

O pai mudou totalmente a maneira de lidar com Gustavo. Relatava à ele todos os casos policiais que ocorriam e trocavam opiniões sempre proativas.

Dizem que ele entrou para a polícia, tornou-se um excelente investigador, delegado e depois um ilustre magistrado.








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