O golpe. - Ises A Abrahamsohn



Imagem relacionada

O golpe.
Ises A Abrahamsohn



Quando Silvio veio me propor o negócio eu já sabia que não seria limpo. Conheço o Sílvio faz tempo. Desde sempre aplicou pequenos golpes, mutretas, enrolações... Enfim, vivia de enganar pessoas. Teve sorte até agora. Os valores não eram muito grandes e ele no máximo levava um soco no nariz, mas nunca foi preso. Mudava de bairro constantemente por razões óbvias e eu estranhei quando veio me procurar depois do expediente do banco. Falou que veio visitar a mãe que ainda mora por essas bandas, mas é claro que não acreditei. A mãe não quer vê-lo nem pintado. Vive com modesta aposentadoria e cansou de ser intimada para depor sobre as malandragens do filho. 

A proposta do malandro era interessante. Não vou me fazer de boazinha. Estou cansada dessa vidinha de bancária. Entrei com dezoito anos e é sempre a mesma coisa. Mexo com dinheiro dos outros, mas a grana pra mim tá cada vez mais curta. Tem filme que mostra o caixa de banco enfurnando algum sem ser descoberto , mas isso é a maior besteira. Tudo é controlado no fim do dia . Cada nota, cada centavo é contado e tem de dar conta. Às vezes a gente se engana, que ninguém é perfeito. Aí vai para a nossa ficha. É pouco, uma nota entregue a mais a um freguês num saque de caixa mesmo a gente contando e recontando.  Claro que o camarada não vai devolver o “a mais”. Só vem reclamar se recebeu de menos.

A jogada do Sílvio é a seguinte. O cara  vem recolher o devido ao INSS dos empregados. Eu recebo o pagamento e autentico o recibo e ele sai achando que tá tudo certinho. Só que a grana, se for em dinheiro, vai para minha bolsa.  Se for cheque é depositado numa conta em outro banco que o Sílvio abriu com nome falso. A maioria dos caras paga com cheque de outro banco. Se for do meu ou transferência a coisa não dá certo. O difícil era conseguir uma maquininha  que fizesse a marcação igual à do banco, mas essa o Sílvio já arranjou e me passou.

No começo, fiquei com medo. Se for firma grande o contador pode ter ideia de verificar no INSS a situação e aí apanha a gente. Mas o Sílvio disse que aqui na agência do bairro o pessoal que vem é de pequenas fábricas ou lojas menores.

Maravilha! Funcionou direitinho. Eu tinha muitos planos para o dinheiro. Um apartamento no Guarujá, pequeno, que eu não sou de ostentar, e queria fazer uma viagem pra Europa ou para os Estados Unidos. Não sei ainda... Onde os Beatles forem tocar. Sou louca pelos Beatles, quero ir num concerto. Agora o câmbio tá bom. O governo do Costa e Silva congelou o dólar. Dizem que o sujeito é uma anta mas pra mim tá bom demais!

Ontem fui  encontrar o Sílvio para pegar de novo a minha parte da grana. Já peguei trezentos mil . Mas o Sílvio sumiu. Acho que eu já sabia que isso ia acontecer.

À noite, a polícia veio bater em casa. Me apertaram e aí não teve jeito. Confessei. Ainda por cima tive que devolver a grana para não ir pro xadrez.  Negócio com o Sílvio, não dá certo mesmo...

PRIMEIRO CONCURSO LITERÁRIO DO CLUBE ALTO DOS PINHEIROS – 2019/2020






PRIMEIRO CONCURSO LITERÁRIO DO
 CLUBE ALTO DOS PINHEIROS – 2019/2020







REGULAMENTO

Este é o primeiro concurso literário do Clube Alto dos Pinheiros. Gostaríamos de evidenciar o enorme prazer que temos em levar este projeto para os associados e seus dependentes. E ao encorajá-los à esta experimentação provocamos a união em torno de em uma atividade cultural, incentivando-os a escrever e ler assiduamente.


QUEM PODE PARTICIPAR:


Podem participar associados do Clube Alto dos Pinheiros e seus dependentes. Não há limite de idade para o participante.

Para cada número de associado, apenas um texto poderá concorrer.

Funcionários e prestadores de serviço ficam proibidos de participação.


SOBRE A INSCRIÇÃO:

A inscrição poderá ser realizada a partir dia 30 de novembro de 2019 e ficará disponível para recebimento de material até o dia 31 de janeiro de 2020.
É gratuita e é feita automaticamente quando do envio do texto.



SOBRE O TEXTO:

Serão aceitos o gênero literário: CONTO – Tema: livre.

O texto deve ser escrito em português, no Word, fonte Arial –tamanho 12, e NÃO deverá passar de 33 linhas, incluindo título, incluindo os espaços, margens normais, espaçamento entre as linhas: 1,5.

Não é exigido ineditismo ou exclusividade, no entanto se o texto for inédito haverá maior consideração em caso de desempate;

Não deve conter ilustrações, gráficos ou quaisquer tipos de imagens, não deverá ter rodapés ou cabeçalhos.

No final da página deverá constar nome completo do autor, número do associado, telefone e e-mail de contato.


SOBRE O ENVIO:

Os textos deverão ser enviados anexados ao e-mail para: 

No lugar destinado para o assunto, digitar:
CONCURSO LITERÁRIO CLUBE AP + NOME DO PARTICIPANTE

Do corpo do e-mail devem constar os seguintes dados:
TÍTULO DO TRABALHO
NOME COMPLETO DO ASSOCIADO
NÚMERO DE SÓCIO
TELEFONE DE CONTATO (WhatsApp- se tiver)
E-MAIL 



DISPOSIÇÕES GERAIS:

A revisão do texto é de responsabilidade do próprio autor;
O Clube Alto dos Pinheiros tem direito de expor os textos em qualquer tempo, de divulgar o autor vencedor do concurso, poderá também publicar o texto no site, blog, revista, e onde for adequado para visualização.
O escritor partícipe do concurso não poderá editar ou remover seu texto depois de enviado.
O autor permanece detentor de todos os direitos autorais. No entanto, fica acordado que os autores isentam o Clube Alto dos Pinheiros do pagamento de Direitos Autorais.


JULGAMENTO – RESULTADO - PREMIAÇÃO

Os textos inscritos serão previamente analisados por comissão julgadora composta por moderadores ajustados pelo EscreViver do Departamento Cultural. A avaliação desta comissão é soberana e não poderá ser contestada.

O RESULTADO será divulgado em fevereiro.

A PREMIAÇÃO ACONTECERÁ no sábado -  7 de março de 2020, na BIBLIOTECA às 16 HORAS.

O texto VENCEDOR, receberá troféu exclusivo do Concurso, e um jantar para 2 pessoas no Restaurante do Clube (bebidas não inclusas).  
O segundo colocado receberá Troféu exclusivo + Vale Cultura do Departamento Cultural
Assuntos peculiares que não constem deste Regulamento serão avaliados pelo Departamento Cultural.
Quaisquer dúvidas sobre este regulamento ou sobre o concurso, podem ser esclarecidas diretamente no Departamento Cultural, ou através do e-mail oficinadetextosescreviver@gmail.com com Ana Maruggi.


Em breve você verá publicação também no site do Clube

UM SONHO DE LIBERDADE - Oswaldo U. Lopes




UM SONHO DE LIBERDADE
Oswaldo U. Lopes


        A foto é muito bonita. Dois cavalos claros galopando em pleno mar, com ares de liberdade, beleza e alegria.

        Só há um lugar no mundo onde cavalos claros e elegantes cavalgam em pleno oceano. É a Camargue no sudoeste da Provence, França. Fleur de Lis (Flor de Lis) e Petit Blanc (Branquinho), dois lindos exemplares desses animais, cavalgam felizes e livres, fazem parte desse conjunto, mas andam às vezes solitários. Bons amigos gostam de chapinhar na água gelada, correr e trotar até cansar.

        São livres e vivem livres, não têm recordações tristes porque nunca viveram sob o peso do chicote, do estoque e das carroças. Nunca puxaram nada que não fosse o próprio corpo e caminham na água rasa como crianças soltas, felicidade sem compromisso, sem culpa, nada que machucasse, nada que tolhesse. No máximo um encantador passeio, montados por gentis turistas que querem conhecer este pedaço perdido do paraíso.

        O mais das vezes o bicho homem só é visto de longe e de vez em quando. Os tratadores que cuidam deles tratam-nos com muito carinho e dedicação.

        Deus vela por eles. O jugo da liberdade é mais fácil de carregar do que o jugo da carroça. Porque não são todos livres e soltos como eles? Porque o mundo não é uma Camargue em vez de a Camargue ser um recanto escondido?

SONHO DE GIOVANA - Antonia Marchesin Gonçalves





SONHO DE GIOVANA
Antonia Marchesin Gonçalves



Numa pequena hospedagem familiar no centro de Veneza nasceu Giovana. Ali cresceu vendo os pais trabalhando muito, o que era normal em toda família da Europa. Os estabelecimentos familiares eram pequenos, e na maioria eram lojas, cafeterias sem empregados, pois os próprios donos tocavam seus negócios. Com exceção da época de alta temporada no verão, quando se contratavam funcionários temporários para ajudar.

Giovana tornou-se adolescente, acostumada com o compromisso de trabalhar, muito ativa e por lidar com todas as nacionalidades de turistas, logo aprendeu várias línguas. Era esperta, estudava de manhã e o resto do dia ajudava a mãe na cozinha, na limpeza dos quartos e servia as mesas. O pai atendia os hospedes, administrava toda parte financeira, atendia a recepção e fazia as compras. Era atraente, sempre sorridente, pele clara, cabelos longos cacheados castanhos que emoldurava o seu belo rosto com seus olhos verdes perspicazes.

 A época mais lotada de turistas em Veneza é a do carnaval e também a do torneio de corrida de gôndolas disputado no grande canal com suas cores de tradição familiar, pois ser gondoleire é herança de pai para filho. Esses torneios são muito disputados, prestigiados pela prefeitura, e os prêmios são orgulho para os vencedores. Tão importante o evento é transmitido pela TV por toda Itália.

Mas, Giovana tinha aspirações, e sonhava com outra vida e não com vida na hospedaria.  Ela queria ser detetive. Adorava ler livros de suspenses, e se via sempre envolvida em grandes enigmas resolvendo-os com raciocínio inteligente, junto ao autor os grandes casos.

Com o seu amigo de infância Giancarlo, no ultimo carnaval, eles foram às ruas para curtir o desfile de fantasias e máscaras, aproveitariam para ver também o teatro de marionetes medievais, tendo o Arlequim e a Colombina como personagens. Quem mora em Veneza não tem a cidade para si, pois está sempre cheia de gente do mundo todo, a privacidade dos cidadãos fica invadida todo o tempo, por causa disso o teatro estava localizado em uma rua menos movimentada de turistas, para que os moradores locais pudessem se divertir sem tanto atropelo. Giovana e Giancarlo ao voltarem para casa numa das vielas viram um homem mascarado em atitude suspeita, ao vê-los ele virou-se de costas e saiu às pressas, quase correndo.

Os amigos curiosos resolveram chegar mais perto do local e qual não foi a surpresa, encontraram uma jovem ferida caída no chão. Ela estava fantasiada, desacordada e com muito sangue nas vestes.  Como viram que o estado poderia ser grave, através do celular chamaram a polícia e contataram a ambulância. Os carabineires ao chegarem viram que se tratava de tentativa de assassinato provavelmente após reação ao roubo, pois as mulheres venetas, seguindo tradição antiga, usam joias em ouro, são conhecidos os seus ourives e artesões e as suas peças em ouro e pedras preciosas que eles criam.

Giovana e Giancarlo conheciam o tenente, e no dia seguinte foram à delegacia, pois queriam ter noticias do caso do dia anterior. Lá ficaram sabendo que a moça veneta foi salva graças a eles, e que o mascarado tinha sido pego. A jovem o reconheceu nos arquivos policiais, pois ele tinha passagem por roubo e estelionato. Bonito e bom de lábia se aproveitava das turistas austríacas, alemães, inglesas sua especialidade. Mas, também não perdia a oportunidade de roubar as venetas.

Giovana adorou esse episódio que deu à ela a certeza da profissão que iria seguir.

ARANHA, ANDA. - Oswaldo U. Lopes



Resultado de imagem para aranha, anda

ARANHA, ANDA.
Oswaldo U. Lopes


        Todo mundo ou quase todo mundo tem ou já teve um pet. No geral os comuns e corriqueiros: cachorro, gato, papagaio, canário etc. Conheci até um casal inglês que tinha uma arara (macaw na língua deles) como pet. A dita cuja comia com eles, torta de rim e peixe com batata frita e também dormia na cama deles. Quem acha que vida de pet é mole não sabe o que é ser macaw na Inglaterra.

        Cada um tem uma história para contar e um pet especial, diferente para lembrar. Já lemos ou ouvimos falar de animais de estimação diferentes e bota diferentes nisso: leão, tigre, urso, serpente, mas aranha só ele tinha.

        E conversar com a aranha só ele conseguia. Às vezes bebiam juntos e a teia dela ficava uma maravilha, com espaços largos e arriscados, com voltas e balanços incríveis. Quando repartiam um baseado, a teia ficava cheia de remendos e buracos mal acomodados.

        Que ele lembrasse só uma vez ela ficara enfurecida e passara mais de uma semana sem falar nem se aproximar, dera até para fazer cara feia só de olhar para ele.

        Tudo começara quando ele contou a piada do cientista português e sua experiência com a aranha.

        O dito cujo pousara a aranha numa mesa limpa e vazia e ordenara:
— Aranha, anda. - E ela andava.

        Depois lhe arrancara duas patas e repetira a ordem. Quando arrancou as oito pernas (lembremos que a aranha é um artrópode aracnídeo, isto é, tem oito patas e não tem antenas, diferentemente dos insetos que têm seis patas e antenas) e tornou a gritar:

— Aranha, anda.

         Ante a impossibilidade dela em cumprir seu desejo, concluiu:

— A aranha sem patas fica surda.

        A aracnídea até então muito amiga, ficou enfurecida. Estava as tintas para o cientista português, mas achou uma afronta arrancarem as patas da colega, assim sem mais, sem menos. Crueldade da mais absurda.

        A amizade só se restabeleceu a custa de muito carinho e muita comida e bebida especiais.

PULO DO GATO - Sérgio Dalla Vecchia




PULO DO GATO
Sérgio Dalla Vecchia



Robert e esposa Margareth felicíssimos curtiam férias na Ásia.

Economizaram muito para realizar o sonho de fazer um safári nas Selvas da Índia, em busca do famoso tigre de bengala.

Esse tigre, espécie ameaçada de extinção, tem porte grande é uma das seis subespécies restantes e segunda maior, perdendo apenas para o tigre-siberiano.

A denominação tigre-de-bengala é devida ao habitat da espécie encontrar-se na Bengala ocidental, próximo ao Golfo de Bengala.

Foram esses os motivos que aguçaram a curiosidade do casal em ver um raro exemplar in loco.

Assim, adquiriram dois lugares em uma caravana de quatro elefantes, adestrados para tal fim, cada um dirigido pelo adestrador e guia local.

Com certa dificuldade, subiram em um deles e acomodaram-se em uma cesta acolchoada devidamente presa ao animal.

A ansiedade abafou-se com a curiosidade. Ficaram realmente nas alturas, pelo porte do paquiderme.

Montado no pescoço, encaixado pelas grandes orelhas, acomodou-se o experiente guia.

Algumas batidas de calcanhares no pescoço do elefante foram suficientes para que partissem rumo à Selva, na cadência desengonçada do único quadrúpede de quatro joelhos.

O casal deslumbrado em contato direto com a natureza, respirava mata, ouvia selva e enxergava verde.

Tudo ia bem até que ao passarem por uma região de capim alto, lá estava ele, o tigre, camuflado e totalmente imperceptível. Com a velocidade de um raio deu um bote, atirando-se  contra o guia. Por muita sorte errou em centímetros, passou voando sobre o pescoço do elefante resvalando no guia, que atordoando, o assustado homem por pouco não foi ao chão.

O tigre, após o desfile apavorante diante de todos, continuou em disparada em direção à Selva, até embrenhar-se nela.

Fato inusitado na vida do experiente guia, pois essa atitude do felino, nunca havia ocorrido antes. Tigres respeitam os elefantes e não os atacam.

Felizmente ninguém se machucou, mas o casal americano, nunca mais quis brincar de safári.

Vírgula (Exercícios) - #BdL

Quando usar ou não a vírgula? - #BdL

MÁSCARAS - Suzana da Cunha Lima



Resultado de imagem para fantasiados em baile de carnaval em 1950

MÁSCARAS
Suzana da Cunha Lima



Tempo da inocência, as marchinhas eram maliciosas, mas a linguagem simples, quase infantil,  tocava a gente e lá íamos nós, dando a volta no salão, a cantar com entusiasmo, e tentando nos desvencilhar de algum folião mais audacioso.

Vai, com jeito vai,
menina vai,
Senão um dia, a casa cai

Ainda posso enxergar a mocinha ingênua e romântica que fui,  acreditando em palavras bonitas que ressonavam junto às batidas de um coração jovem que mal acordava para vida.

Eu sou aquele Pierrot
Que lhe abraçou
Que lhe beijou, meu amor

Ah, também tive meu Pierrot num carnaval que passou, tanto tempo pra trás. Eu de pirata, só com um tapa-olho, quando ele  começou a dançar à minha frente, de máscara, onde eu só podia enxergar seus brilhantes olhos verdes.

Vou beijar-te agora
Não me leve a mal
Hoje é Carnaval....

Ainda sinto o gosto de sua boca, o abraço audacioso onde mal consegui respirar e suas mãos buliçosas a me buscar.  Consegui empurrá-lo zangada, mas ele parece que nem ligou, voltou à dança sempre cantando ou rindo na minha frente.

Bandeira branca, eu peço paz
Pela saudade que me invade
Eu peço paz

 A zanga foi-se embora e eu nem sei se foi a Cuba Libre que tomei, ou a música a ocupar minha cabeça que, quando eu vi, já estávamos no jardim do clube, bem em frente à Lagoa, deitados na grama, abraçadinhos. 

A lua, indiferente, mas sempre bela, foi a única testemunha do momento em que caíram as máscaras.




A SUPERAÇÃO DE FRANCINE - Antonia Marchesin Gonçalves



Casamento Momentos anel jóias anel de noivado mão dedo Casamento cerimônia


A SUPERAÇÃO DE FRANCINE 
Antonia Marchesin Gonçalves



                Francine nasceu em berço de ouro, ou seja, família rica, filha única desfrutava uma vida de privilégios junto aos pais. Ao chegar à adolescência os pais optaram por mandá-la estudar na Suíça, escola famosa especial para alunas da sociedade, como era de praxe na alta esfera paulistana. Anos mais tarde ao retornar, após se formar, era já uma linda mulher, elegante, educada e falava três idiomas, tocava piano, tudo o que uma moça  da sociedade  deveria ser.

                Os pais ofereceram uma grande festa, reunindo grande número de amigos com seus filhos, uma bela e grande recepção, era a forma de apresenta-la à sociedade, e quem sabe arranjar-lhe um marido. Entre tantos convidados Zefinho estava na lista, seu nome José Fernando, rapaz também bonito de tradicional família paulistana chamou a atenção dela. Mostrou-o curiosa a uma amiga de infância, ao que ela lhe avisou, é um bom “vivent”, vive no clube jogando tênis e pôquer, não se importando e nem se interessa pelos negócios da família, não vá se apaixonar por ele, vai te fazer sofrer. Isso foi em 1975.

                Não teve jeito ela se encantou com ele, passou a frequentar o clube e assim nasceu o amor entre os dois, um ano depois estavam casados, mesmo contra a vontade dos pais, que sabiam que as empresas do futuro genro estavam quase na falência, restando somente, as fazendas de gado no interior de São Paulo.

Após o casamento, ela optou por morar com os pais no casarão da família, para lhes fazer companhia. E como era de se esperar Zefinho continuou a viver a vida como antes, com uma diferença, jogando menos tênis e mais pôquer, contando lógico com o respaldo da esposa apaixonada.

                Em 1980 Francine já debilitada por ter perdido os pais em um desastre de avião na Europa, descobre que havia perdido tudo, inclusive o casarão, em dívidas de jogo que o marido havia se metido. E o único bem que sobrou foi  a fazenda em Bauru. . Forte e decidida divorciou-se de Zefinho, e mudou-se para Bauru, administrando com punhos de ferro, cuidou do gado de leite, vendendo o produto para um grande laticínio tornando-se especialista em queijo e doce de leite.

                Com isso seus produtos eram valorizados em São Paulo, conseguiu se reerguer, e passou a ser respeitada em toda região. Depois de algum tempo, ela encontrou o verdadeiro príncipe encantado, sendo muito amada até a velhice e pode usufruir os seus netos com orgulho da herança que deixou.



Socialite ambiciosa - Ises A. Abrahamsohn.



natureza menina mulher cabelo campo fotografia Visão vento retrato modelo moda amarelo jardim Penteado cabelo longo fechar-se Olhos vestir montanhas bege olho listras Palha fotografia pele beleza Sobrancelhas bonita Sexy Loiro sessão de fotos cabelo castanho Mulher loira Fotografia de retrato


Socialite ambiciosa
Ises A. Abrahamsohn.



Francine estava no cabeleireiro há quatro horas. Vida de socialite não é mole. O tempo todo tem que estar atenta. A concorrência é dura. É preciso estar sempre produzida, os cabelos arrumados, a maquiagem perfeita, a roupa na última moda e a disposição para sorrir a qualquer celular ou câmara fotográfica nas proximidades. Nunca se sabe se alguma dessas fotos vai aparecer nas revistas de fofocas por aí. Enquanto o cabeleireiro fazia escova para avolumar a cabeleira loira, a moça apanhou a Caras que acabara de sair.

Era leitora assídua da revista esmiuçando página por página com sofreguidão para se inteirar das fofocas e das reuniões e festas acontecendo na cidade. Sempre havia alguma fofoca nova. Seu olhar foi atraído pela foto da Carmita numa festa a que ela, infelizmente, não fora convidada. Essa é podre de rica. E elegante... Beleza de vestido, longo cor de cereja, costureiro de New York... O olhar percorreu o vestido mas parou mesmo no magnífico colar de brilhantes entremeado com rubis do mesmo tom do vestido. Por baixo, deve valer uns quinze milhos! Tenho que falar logo com Mário. Francine tinha lido o texto ao lado da foto anunciando a grande festa de aniversário que aconteceria em duas semanas na casa da riquíssima Carmita. Tenho que conseguir convites pra mim e pro Mário. Com a grana desse colar posso finalmente largar o estrupício do Gerôncio e eu e o Mário vamos viver numa boa em Miami. Ele tem prática de arrombar cofres. Com a confusão da festa vai ser fácil. Antes ele tem que ir lá conhecer o terreno.

Francine ligou para o namorado Mário assim que saiu do salão.  Este logo topou. Tinha prática em disfarces para entrar em casas alheias. Tá no papo minha flor. Tenho uniforme, carteirinha  e até adesivo de técnico da internet para colar no carro. Entro e vou para o andar de cima localizar o cofre e o sistema de alarme.

Dito e feito. No dia, festa suntuosa, quinhentos convidados. Lá estavam os dois. Logo após entrarem, Mário subiu a escada de mármore que levava ao andar de cima da mansão. Sorte que não bloquearam a escada, pensou Francine que tentava controlar o nervosismo.  Usava uma peruca de cor castanho-escuro de cabelos curtos, maquiagem bronzeada e vestido verde. Só quem a conhecesse bem seria capaz de reconhecê-la. Circulava discretamente pelos salões evitando grupos onde percebesse algum conhecido. A cada volta olhava disfarçadamente para o alto da imponente escada.  Finalmente viu Mário fazendo o gesto de que tudo tinha corrido bem. Como combinado, Francine saiu  aparentando naturalidade pela porta principal e caminhou sem pressa pela calçada. Tinham combinado se encontrar no carro que estava estacionado a duas quadras dali.

Cadê o carro?  Não conseguia ver. Estava escuro. Será que errei a direção? Olhou, olhou, andou mais uns cinquenta metros e nada do carro. Estava certa. A rua era aquela. Só o carro não estava mais lá! Sentiu um frio na barriga que lhe subiu até o peito. Ligou para Mário no celular. Caixa postal! De novo, nada. Não precisou ligar de novo. Já sabia. Fora passada para trás.

M.... tenho que aturar o Gerôncio por mais um tempo. Depois riu. Tinha uma veia filosófica. Ainda bem que tenho ele pra me sustentar. Ligou para casa.

Alô, benzinho, já estou chegando. Hoje o jantar com as meninas terminou mais cedo. Me espere, viu, não vá dormir! Beijinho! Tchau!

Nico, o Rei da Paquera - Paulo A Abrahamsohn





Nico, o Rei da Paquera
Paulo A Abrahamsohn



Fim de tarde, hora de happy hour. Nico, um paquerador incorrigível, era frequentador constante de barzinhos, sempre à procura de alguma vítima. Nesse dia entrou no BarToldo. Era um dia especial. Tinha comprado seu primeiro carro. Fez isto para impressionar o sexo frágil e alavancar suas paqueradas. 

O bar era muito chique e logo percebeu um alvo para sua cantada. Bonita, sozinha e vestindo um pretinho básico. Saboreava um drink em um copo alto contendo um líquido rubro como sangue e enfeitado com uma rodela de kiwi na borda. Esta seria a de número 129 do seu caderninho de paqueradas.

— Oi super gata. Posso sentar?

 Sim, claro, disse a jovem.

 Sou o Nico. Chief Administrative Officer da Spheratone no Brasil.

 Prazer, Lucrécia.

 Vou tomar um drink igual ao seu. Venho aqui pela primeira vez.

 Eu sempre venho aqui à tarde, retrucou Lucrécia. Adoro este drink, é o Pecado n. 3.

Pecado n. 3! Oba! Pensou Nico, a coisa está começando bem. Dentro em pouco já estavam íntimos. Lucrécia tinha um bom papo, era vistosa, que mais ele poderia querer.

 Já te falei que comprei um carro? É um Arizona XT, 1000 cilindradas.

 Noooossa! Que demais. Que cor?

 Vermelho Rembrant, um pouco mais claro que o nosso drink.

 Noooossa! É a cor que mais gosto do Arizona, disse Lucrécia. Vamos então tomar mais um drink para comemorar.

 Só que tem um problema. Hoje é 16 de março, ontem foi a posse do Collor. Tudo acima de 50 mil Cruzados novos nas contas bancárias e nas aplicações está bloqueado. Paguei somente a metade do valor do carro e vou ter que devolvê-lo.

 Não, nada disso. Você está se precipitando. Eu sou bancária e hoje de manhã tivemos uma reunião na agência e já encontramos um jeito para os clientes poderem sacar quanto quiserem da conta. Aliás, tenho que voltar rapidamente para a agência para fazer a operação de outro grupo de clientes.

 É mesmo Lucrécia! Como eu poderia fazer isso?

 Bem, vou te contar, mas é super sigiloso. Você tem conta no BNJ?

 Não, disse Nico, minha conta é no Banco República.

 Neste caso preciso do seguinte: um cheque em branco assinado, mas cuidado, coloque a data de antes da posse do Collor, escreva 14 de março.

 É prá já, que sorte a minha, disse Nico. Preencheu o cheque e entregou para Lucrécia.

 Hoje à noite já faço a compensação do seu cheque. Agora são 6 e 40. Preciso estar na agência às 7. Amanhã trago o dinheiro, mas tem que ser em notas de 500.

- Sem problema Lucrécia. Deixe que eu acerto as nossas contas do bar. Beijinho.

 Beijinho Nico. Amanhã quero passear no seu Arizona vermelho.

No dia seguinte, mesmo bar, mas muito antes da hora, pois Nico estava ansioso. Quase não conseguiu dormir, por causa da tripla vitória: uma super gata, um Arizona e um monte de dinheiro na mão. Resolveu esperar por Lucrécia com um copo de Pecado n. 3. O tempo passava e Nico foi ficando nervoso. Onde estava sua paquera? Depois de longa espera perguntou ao barman.
 Aquela garota que vem sempre aqui, com quem tomei um drink ontem, não veio hoje?

 Não veio. Só que tem uma coisa, ela nunca esteve aqui antes.

Nico caiu em si e percebeu o que acontecera, tinha sido vítima de um conto do vigário.

 Que azar, que besteira que fiz. Sou mesmo um azarado. A bem da verdade, nenhuma das outras 128 paqueras da minha lista deu certo.



PAULINHO. MÁRIO AUGUSTO MACHADO PINTO




PAULINHO (Paulo Rodrigues de Souza)
MÁRIO AUGUSTO MACHADO PINTO.



Apesar de não ser observada rigidamente, há bastante tempo alguns dias da minha semana tem finalidade determinada: são aqueles em que vou ao Clube Alto dos Pinheiros fazer exercícios físicos (eu prefiro dizer ginástica), e ao EscreViver onde convivo com outros sócios e aprendo a arte da escrita.

Já houve tempo em que frequentava o CAP todos os dias do ano pela manhã. Foram anos até sofrer um acidente quando tive restrições quanto a exercícios físicos. Tinha tempo de sobra e queria preenchê-lo fazendo algo aqui mesmo no CAP. Descobri o EscreVIver onde, como já assinalei, aprendo a arte da escrita. Então venho ao CAP às 3as., e/ou às 4as., revejo colegas e almoço algumas vezes.

Mas, quem vejo em 1º lugar ao descer do táxi na entrada coberta do CAP?

O Paulo, comandante da Portaria.

Seu cumprimento me dá o tom do dia: alegria e gentileza.

Faz parte da vida de todos os sócios. Assistiu e acompanha todos se transformarem, crescerem, alguns deixarem o CAP.

É aquele amigão que repreende, mas não zanga, pondo ordem, ajuda as mães com os filhos menores ou empurrando o carrinho do bebê,  avisa e chama os menorezinhos da chegada da condução à porta; ajuda com bolsas e apetrechos dos esportistas. Sempre sorrindo faz isso e o muito mais que lhe pedem.

É aquele que nos intervalos do atendimento não é solitário: se distrai solucionando problemas do Sudoku e Cruzadas.

É o que nos recebe e nos chama pelo nome, sabe nosso número de matrícula e nos avisa que o sócio fulano está nos procurando.

Em resumo: quero dizer que faz parte da minha vida, nos falamos com alegria e respeito.

Aceito suas constantes gentilezas como prova de amizade e consideração.

Além disso, Paulo Rodrigues de Souza me dá liberdade de chamá-lo de  PAULINHO.