UMA METÁFORA AGRÍCOLA
Jeremias Moreira
Sonolenta ainda, Cicinha abriu o olho. Estava escuro, mas apesar
disso, a passarada já anunciava o alvorecer. A primeira coisa que lhe ocorreu
foi que precisava atrasar todos os relógios, como fazia todos os anos. Depois olhou para Jadir e percebeu que
ele também estava acordado. Aproximou-se dele.
− Vem cá e me dá um abraço! Faz tempo que você não me abraça
gostoso!
Jadir rolou na cama, virou-se para a mulher e envolveu-a carinhoso.
Ela se deixou acomodar envolta pelo braço do marido. Em seguida e, aos pouco,
Jadir foi subindo com o corpo sobre ela. Acompanhado ao peso ela sentiu o
volume que pressionou seu púbis:
− Eh! Lá vem você pensando em outra coisa. Não é
simplesmente capaz de um abraço fraternal?
− E quando eu não fui fraternal?
− Sei... sei... Nunca! Você sempre vem pra cima de mim como
um trator selvagem!
− Então querida. Um trator que tem a felicidade de trabalhar
a melhor terra da região.
− Essa terra já está cansada!
− Mesmo assim continua sendo a melhor!
− Você só pensa nisso!
− Amor, um trator tem que trabalhar, senão enferruja! Para
isso, tem que estar sempre em atividade.
Seguiu-se um silêncio. Cicinha pensou no que o marido
acabara de dizer e súbito, puxou-o para cima de si:
− Então vem cá e cuida direitinho da sua lavoura!
Aproveitaram a hora que ganharam com o fim do horário de
verão e Jadir arou, gradeou e semeou o campo frondoso que cultivava com tanto esmero.
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