MÚLTIPLOS CORNOS - Oswaldo U. Lopes

 
MÚLTIPLOS CORNOS
Oswaldo U. Lopes   


Joaquim sentado na frente do investigador, dentro da delegacia, se perguntava o que dera errado? Fazia tempo que ele, cheio do chefe, vivia a espioná-lo. Roupa que usava, hora da chegada, hora da saída, saque de dinheiro, presentes. Joaquim sabia de tudo, nos detalhes, aparentemente sem deixar suspeitas.

 E o chefe era caidinho pela Andreia, a secretaria morena, linda, a boazuda do pedaço, como era chamada na hora do café.

Num tempo de máquina xerox e telefone celular, Joaquim documentava tudo, afinal nunca se sabe o futuro. Mas, ele sabia, há quinze anos na firma, ganhava um salário ruim e trabalhava numa sala com mais oito caras, sonhando com sala de quatro ou até de dois com direito a secretaria.

Armou o bote, reuniu cópia do material e enviou, anonimamente ao chefe. Depois fez a ameaça de revelar tudo à mulher dele. E, por fim identificou-se e fez suas exigências.

Agora estava na delegacia,  e Honorito, o investigador chefe, não mostrava muita pena:
                                                                                                                 — E então seu Joaquim, quinze anos de firma e resolveu partir para chantagem? Sabia que era mal feito, não é? Digo mais é crime, código penal, vai acabar na cadeia e faço questão de jogar a chave fora.

Joaquim não resistiu muito, acovardado se entregou. Chorou, falou do apartamento miserável, da mulher que fazia crochê e cuidava dos gatos. De como aquela fora a oportunidade de escapar disso tudo, de ir para frente, achava que a mina não tinha fim, enquanto Andreia estivesse por ali e fosse aquele pedaço de mau caminho, ele viveria sossegado.

— Pois é seu Honorito, por que deu errado?

-—  Por que deu errado:

1- Porque chantagista é criminoso da pior espécie, sempre covarde e choramingas.

2- Porque não sabe olhar a sua volta.

— Como assim?

—  Lembra aquele restaurante que você foi, gastando uma nota, só para fotografar o romântico par? Se você tivesse virado seu celular noventa graus teria visto D. Eulália, mulher do seu chefe, jantando com o advogadinho responsável pelo judiciário da firma.

Era um caso de multicornicidade consentida. Ela sabia do caso da Andreia e até escolhia as flores para ela. Não faz cara de espanto não, ele escolhia as gravatas para o advogado.

Você pegou o bonde errado e vai se ferrar no fim da história, e eu além de não me importar vou me deliciar com isso!
                                                                                                                




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