Que situação terrível!
Fernando
Braga
Jose
Carlos era e sempre foi um bom profissional, inteligente, dedicado, muito
trabalhador, mas tinha um ponto fraco:
as mulheres.
Sua
mulher Lurdes, era prendada e reconhecida psicóloga, mas agora com 50 anos já
mostrava alguns sinais de decadência
física, mas apenas física.
Certo
dia, ela recebeu um telefonema anônimo
afirmando que seu marido estava prevaricando e com a filha mais velha do dono
do nosocômio onde trabalhava.
Separaram-se
após 30 anos de casamento, o que foi muito sentido pela esposa, filhos, amigos
e admiradores. Ele alugou um apto e assumiu o namoro com Rosana, vendo
esporadicamente sua família, a quem nada deixava faltar.
Ao
fazer 60 anos, cansou-se da outra e
pediu para retornar ao lar. No começo sua esposa rejeitou a proposta, mas após
insistência e reconhecer que ele ainda a amava, aceitou.
Decidiram
juntos comemorar o reatamento, e de uma maneira grandiosa. Programaram uma
viajem, com toda a família, que havia
crescido, ao todo 10 pessoas, incluindo os dois netos. Combinaram irem à Disney
em Orlado, mas primeiro passando cinco dias em Miami, aonde iriam para um
excelente e dispendioso hotel, o que incluía o aluguel de dois carros.
Encontraram-se
todos no Aeroporto de Guarulhos, onde lancharam, compraram algumas revistas e
entraram na zona de embarque, não deixando de passar no Free Shop para comprar algumas bebidas como
Champanhe, uísque, bombons e chocolates.
Foram
com a TAM, em uma viajem de 8 horas até
a capital da Flórida, saindo às 23, com chegada prevista para as seis horas.
Sentaram-se
todos em assentos próximos, ele de mãos dadas com sua compreensiva esposa, que
não deixava de exteriorizar contentamento com a viagem, por sua nova vida e
felicidade futura.
Jantaram,
tomaram vinho, assistiram a um filme e depois fez-se silêncio, porque todos
queriam dormir.
Tudo
corria muito bem quando por volta das cinco horas, Zé Carlos acordou sua mulher
dizendo que não estava se sentindo bem, tinha grande aperto do lado esquerdo do
tórax e solicitava que ela lhe trouxesse um pouco de água.
As aeromoças foram chamadas para dar um
atendimento a ele. Piorou rapidamente ficando com o folego curto, suor frio,
palidez intensa. Referia muita dor no peito.
As atendentes perceberam a gravidade do caso,
deram-lhe um analgésico. Pelo auto-falante solicitaram a presença de algum
médico presente a bordo e foram avisar
os comandantes do avião sobre o acontecimento.
Estavam a pouco mais de uma hora de Miami, a
10 000 metros de altura, sobre o oceano e o melhor era avisar o serviço de
urgência do aeroporto, para o paciente ter um atendimento rápido, condução a
hospital próximo logo após sua chegada.
Um
senhor apresentou-se como médico, examinou rapidamente o paciente, viu que
estava sem pulso radial e nas carótidas.
Pediu que tirassem o paciente de seu assento e
o colocassem no assoalho começando então a fazer massagem cardíaca e respiração
boca a boca associada. Após uns 10 minutos, o médico já exausto, parou
com as manobras e reexaminando o paciente observou que continuava
sem pulso, não reagia e abrindo suas
pálpebras viu que suas pupilas
estavam dilatadas. Virou para sua mulher
e filhos e com voz entrecortada disse:
—
Está morto!
O
pânico, a confusão se estabeleceu. Lurdes começou a gritar desesperadamente, a
chorar copiosamente, beijando-o, abraçando-o, agarrando-se fortemente seu peito
e falando muitas coisas sem nexo. Seus filhos e noras acompanhavam as lamúrias.
Os
passageiros participavam daquele episódio tão triste, compadecendo-se do
desespero dos familiares, alguns
rezavam. O fato estava consumado.
Foi dolorosa a espera até o avião aterrissar.
Lurdes ainda tinha esperanças de que atendimento em um hospital pudesse mudar o
quadro.
Logo
após a aterrissagem chegou a equipe de emergência, que colocou o passageiro em
uma maca, levando-o à ambulância que aguardava e daí para um hospital próximo,
o Jackson Hospital.
A
família também foi conduzida ao hospital e ficaram aguardando. É evidente que a
morte foi confirmada, certamente causada por um enfarte fulminante.
Os familiares puderam novamente se acercar do
corpo, ocasião em que a mulher novamente entrou em crise de desespero e dizia:
—
Por Deus, por que você foi morrer bem agora?! Não tivemos nem chance de nos reabilitarmos, de vivermos
juntos novamente, de recomeçarmos nossa vida. Eu te amava tanto!
O fato real é que Zé Roberto não gostava de
médico, fugia deles, não fazia checkup, mas na verdade sempre tivera boa saúde,
não tinha queixas.
Os
filhos logo retiraram a mãe do local, sedaram-na a pedido dos médicos e todos
foram para um hotel próximo ao aeroporto. No mesmo dia, os filhos receberam o
atestado de óbito e foram tratar dos papeis para poderem reconduzir o pai de
volta ao Brasil. Foi dada a permissão para o corpo ficar na frigorifica para
não deteriorar e injeção de formol na circulação também para conservar o corpo.
Após dois dias, conseguiram o avião para o
transporte do corpo, colocado em um caixão bem lacrado Juntos, embarcaram os
nove familiares.
Foram
os dois piores dias que haviam passado na vida, considerando a expectativa de
passarem os 15 melhores dias juntos, para se reorganizarem em todos os sentidos!
Expectativa
frustrada!
Chegando
a São Paulo, muitos membros família
estavam aguardando, amigos próximos, colegas aguardavam no aeroporto, todos muito
chocados com o inesperado, fortuito acontecimento.
O
corpo ficou exposto mais um dia em um necrotério e depois
cremado conforme era sua vontade. Nunca pensou em adquirir um terreno em
cemitério.
Adeus
Zé Carlos!
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