JOSÉ
ANGELO NÃO VOLTOU
Oswaldo U. Lopes
Jose
Ângelo era decidido, embora a pergunta seguinte ficasse o mais das vezes sem
resposta, decidido a que? Era também quieto e ai a pergunta era outra, quando?
Sempre, era a resposta. Solitário vinha
a seguir, com família era preciso acrescentar.
Não é muito, mas temos ai um homem decidido, quieto
e solitário. Proprietário de uma pequena indústria transformadora tinha no
galpão, de bom tamanho, oito tornos e três pequenos escritórios. Sua atividade
gerava emprego para 27 pessoas para ser exato.
Como tantos outros a crise o alcançara, os pedidos
de tubos perfilados e torneados escasseavam. Nunca pensara que isso pudesse
acontecer, sua indústria não era grande e estava colocada como que a meio
caminho. Produzia material que era parte importante de conjuntos maiores que
outros fabricavam. Conhecia muita gente que usava seus tubos, mas que agora não
mais os pedia.
Quieto e solitário nem precisava ligar para seus
antigos e fieis compradores para saber o que estava acontecendo, porque os
jornais e a televisão só falavam disso. A família apenas o olhava de soslaio,
filhos já formados procurando se colocar na vida. A mulher, dona de casa
irrepreensível, passava o dia cuidando do lar e a noite vendo novela.
Sabia o que tinha que fazer, sob pena do negócio se
inviabilizar, despedir uns doze e avisar o resto de que haveria corte de
benefícios. Pela primeira vez em trinta anos de atividade chegara a esse ponto.
Decidido, quieto e solitário tomou a decisão que acreditava seria a
melhor para o momento.
Arrumou uma pequena maleta, foi para a fábrica,
olhou de maneira circunspecta aquela gente toda. Por volta do meio dia saiu
como saia todos os dias. Só que desta vez, ele não voltou.
Não voltou para a fábrica, não voltou para casa,
não pegou o carro, simplesmente desapareceu.
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