O ASSASSINATO DO SENHOR FONSECA - PARTE I - Oswaldo Romano



O ASSASSINATO DO SENHOR FONSECA
Oswaldo Romano                                                                               

Uma família abonada graças a economia e o trabalho do casal Fonseca e Teresa souberam dar continuidade ao que tinham começado. Não era pouco, pois Teresa havia herdado, quando solteira, seu quinhão do patrimônio do avô Marcos.

Viviam na casa da chácara, com os filhos, Ana, Bruno e Lauro. Formavam uma invejável família, admirada até pelos próprios serviçais.

Fonseca até há pouco, foi alto executivo da multinacional Muller & Co., afastado pela aposentadoria. Recolheu-se no chamado “doce lar”. Apaixonado por sua biblioteca, nela permanecia o maior tempo, lendo e revendo as qualidades dos seus projetos do passado.

Não permitia a entrada de ninguém, e mantinha-se fechado, sempre com a chave do lado interno.

Entre seus serviçais em número de quatro, corria à boca pequena, que seu cofre guardava respeitáveis valores e joias. Tião, o jardineiro, o chamado homem “pau pra toda obra”, de fala mansa e trato reservado, era tido como de confiança. Seu constante silêncio, chamava atenção dos demais, colocando-os “de orelha em pé”.

A cozinheira Lourdes, mal completava um ano de casa. Ganhou o emprego, sem dar referências. Fora indicada pelo pasteleiro da praça. Quem cuida da casa é um pirobo. O último a se recolher.

Era comum Fonseca varar a noite mergulhado em suas leituras. Como sempre a porta fechada por dentro. Uma pequena janela lateral era provida de resistente grade de ferro retorcido.

Foi assim que recebi as primeiras informações quando cheguei para investigar sua misteriosa morte.  Ocorreu dentro da sua inseparável biblioteca. Assumi este trabalho a mando do Dr. Delegado Jurandir, destacado para resolver casos difíceis.

Eu sou o detetive Poá.

A biblioteca fica separada da casa, contígua à churrasqueira e o forno de assados. Vez ou outra Fonseca oferecia aos amigos da cidade e às figuras proeminentes, seu famoso churrasco de Javali, que se estendia até altas horas.

Os filhos, estudantes em faculdades, viviam na Capital, onde ocupavam um Flat..

Era carnaval, a mãe foi visitar, por três dias, os filhos na cidade, onde ocupou o Flat ao lado. O pai avesso a estas festas, permaneceu na chácara.

Quando foi constatada sua ausência, bombeiros tiveram que arrombar a porta que por falta de espaço abria para fora.  Junto com a polícia técnica, verificamos não haver sinais significativos de luta, mas não restavam duvidas de que fora assassinado por asfixia.

Na maior festa popular do país, familiares fora de casa, foi arguido pelos empregados que também queriam ver o carnaval, e foram dispensados.

O jardineiro, o mais visado, tinha como álibi ter sido hóspede da chácara vizinha, a convite do caseiro que ficaria sozinho.

Foi na quarta-feira de cinzas que o senhor Fonseca não deu sinal de vida. Confessei ao Dr. Delegado que encontrava muita dificuldade para esclarecer o caso. A porta trancada por dentro com chave gorja. Estando ela na fechadura, como estava, não permite que se introduza outra por fora. Impossível também o uso de uma micha.

O fato é que o homem foi encontrado morto, sufocado. O IML confirmou, inclusive o uso do soporífero! Em suas mãos não havia resíduos do pó.

— Cacilda! Estou na estaca zero! - Pensei.

Voltei a pressionar os empregados. Ocorreu a possibilidade de terem injetado algum veneno pelas frestas.

Nesse caso o homem sairia correndo. Além de que, antes de ser assassinado, ele foi dopado com clorofórmio. O criminoso tampou lhe a boca, ele despencou, em seguida o sufocou. Na jardinagem alguns produtos têm esse efeito...”

Esqueça! Falei comigo mesmo. O jardineiro tem um ótimo álibi. Poderia seu amigo estar  dando cobertura? Ou, seria seu amigo o assassino? Ou ambos? Entraram pelo telhado? Não, porque o forro da biblioteca é gesso, e está perfeito. Envelhecido e sem emenda”

 “Como vou esquecer! Ele não se matou, foi morto. Estava trancado por dentro! E a chave na fechadura! Caso introduzissem outra chave do lado de fora, e a de dentro estivesse alinhada, esta impediria ou seria empurrada para o chão”

— Poá? - Ponderou o delegado - É de fundir a cabeça!

 É doutor... fundir a cabeça e quebrar os chifres!

— Um caso para botar no fundo da gaveta, e esperar o acaso.
                                                           
 Doutor. O bom detetive, nunca abandona para sempre um desafio.
                 
...
. continua no próximo capítulo.

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