A
melhor viagem de trem
Ises Abrahamsohn
Denise
viera para a festa da sobrinha predileta que completava dezoito anos. Festa de
jovens, animada e com
bebida à vontade. Tinha ido dormir às três da manhã e saíra correndo
para pegar o trem das sete de volta à
Paris. Ignorou os apelos da irmã para um desjejum mais consistente. Pegou dois brownies
de chocolate que tinham sobrado
da festa e colocou-os na bolsa.
Agora, já
tranquila, olhava distraída pela janela do trem em movimento. Lembrava os
jovens na festa: roupas elegantes e caras e as garotas com rostos excessivamente maquilados. Recordava os seus próprios dezoito anos . Eram os anos setenta, de rebeldia, das roupas
soltas e das carinhas lavadas... Ela mesma não tinha
sido muito rebelde, mas tivera tantos namorados.... Sorria... Já existia a pílula...
Graças a Deus e aos cientistas!
Denise lembrou dos brownies na bolsa e os engoliu com o café comprado na estação. Cochilou e voltou a olhar
pela janela. Na paisagem ondas
sucessivas de cintilantes verdes matizados contrastavam com os esplêndidos
amarelos das flores .
O rapaz loiro
sentado do outro lado do corredor lhe sorriu. Ao retribuir, ela o viu
flutuar . Sentia-se ela própria
leve: abriu os braços e pairou no ar. O anjo loiro indagou se estava bem.
— Sim, claro, estou
maravilhosamente bem! Ouviu então o
toque longínquo, mas insistente do celular.
— Tia, estou
ligando há meia hora. Você está bem?
— Claro que estou, querida!
Nunca
estive tão bem.
— Tia Denise, você já comeu os brownies ?
— Sim, minha flor.
Estavam deliciosos!
— Tia, aqueles
brownies eram especiais! Foram temperados com bastante erva, da boa !
— Pois é, querida, que
festa, hein? E que viagem! A melhor que
já fiz de trem!
Leve, solto, delicioso de ler!
ResponderExcluir