O MISTÉRIO DA ALIANÇA MALDITA
Oswaldo
Romano
O desejo de conhecer Nova York, era sua
maior vontade. Desde jovem, colegas de classe, filhos de pais abonados,
contavam as grandezas dessa cidade. Celso não gostava de ouvi-los, mas para manter-se no meio
aceitava, engolindo a seco.
No mínimo achavam, sei lá, um modo de esnobar,
atirando-lhe frases carregados de conhecimentos. Ele merecia, era
insuportavelmente maçante. Prometia junto aos colegas, um dia dar a volta por
cima e mostrar quem era o melhor.
Os mais cordatos apenas respondiam às
suas perguntas. Eram tolerantes com o moço, não vangloriavam seus conhecimentos, conheciam sua
têmpera.
Celso queria, mas não conseguia igualar-se. Pensou numa bolsa de estudos.
Entrou com tudo para ganhá-la. Não mediu
consequências, burlou normas, conquistou analistas, trambicou.
E lá foi ele com um balaio cheio de enganosas virtudes.
Queria ao retornar trazer conhecimentos para mostrar quem era ele diante
daqueles que considerava pulhas. Faltava-lhe a mínima modéstia. Sua conversa
era a chamada conversa-mole. Mas, conseguiu a viagem.
A cidade realmente lhe impressionou.
Percorrendo Nova York viu-se no famoso Central Park, tanto falado. Acomodou-se
num banco, refletia como seria sua vida agora.
Cabisbaixo, a posição do sol fez brilhar no rés da grama algo que
brilhava. Cuidadosamente com o pé abriu espaço e viu ser uma aliança.
Antes de tocá-la correu os olhos em volta, aquele olhar
investigativo, próprio do momento. Aguardou aqueles demorados segundos,
curvou-se para pegá-la, mas parou apertando o cadarço do sapato. Ficou
indeciso, pois ao seu lado sentava um senhor, pernas cruzadas olhar perdido.
Virando-se para o Celso, sorriu,
levantou-se e se foi. Celso achou que
ele não percebeu
seu intento. Teve mais um momento de vacilação. Mas, foi só um instante.
Mergulhou de novo na robusta aliança.
Embolsou-a e deixou para examiná-la depois.
Legível no seu interior estava gravado: Fred e Helen. Em
um país que não era o seu, desconhecendo os costumes e leis, levou-o a procurar
o verdadeiro dono na esperança de negociar uma boa gratificação.
Usando uma lupa, vasculhando
cuidadosamente seu interior, encontrou o logotipo V. Poderia ser do Vuitton, a
famosa grife Louis Vuitton ou Vivara, uma filial brasileira. Procurou esta, a
mais fácil.
Atendido pelo Nelson, um brasileiro empenhado no sucesso da nova casa,
conseguiu identificar os compradores e seus endereços.
O caminho clareava.
Foi procurar o cidadão disfarçando
a grande vontade de ganhar verdinhas, superior ao
ouro.
Localizando a casa, foi atendido em
inglês por uma
senhora. No diálogo, estranhando sua fala, ela chamou pelo marido. Este falava
castelhano. Ao tomar conhecimento pelas primeiras palavras do visitante, disse à
mulher que o rapaz procurava emprego e a descartou encostando a porta. Levou um susto com a notícia e chamou-o de lado.
Celso quando percebeu o pavor do
homem, entendeu que ali havia muito mistério. Ao pedir-lhe que mostrasse, Celso alegou que
por segurança deixou a aliança em casa.
Marcaram um encontro para acertos na
mesma praça, o
Central Park. Fred recomendou que não faltasse, insistiu muito nisso, e que
compraria a aliança, desde que fosse a legítima. Como era benzida pelo Papa e
testemunha do primeiro casamento, pagaria até cinco mil dólares. Valor alto
para que não faltasse.
A euforia de Celso encheu seu
pensamento. Porém foi
arrefecendo a medida que, voltando do contato, estranhava a importância que
Fred deu à joia.
À noite não dormia, rolava, não se desligava do fato. Em dado
momento acendeu-lhe uma nova luz: Tinha ela, a Helen! Possuía seu endereço. Por que não procurá-la? Por que Fred deu tamanha importância de
possui-la? Moitou-se quando lembrou o nome da Helen. Não via perigo em perder o
que já havia combinado. Ao contrário, a coisa prometia ainda mais.
Como previa, foi até a dona. Ela soube disfarçar sua surpresa na fala,
porém Celso percebeu que amarelou e suas mãos tremiam. Disse ser Mexicana. Perguntou seu nome.
Para ele se existia ainda alguma dúvida, dissipou-se. Faltava descobrir qual era o mistério da aliança, tamanho
interesse e o valor ofertado.
— Celso - ela começou falando - essa aliança foi roubada
de pessoa assassinada, antes da chegada da polícia. O portador dela corre sério
risco de vida. Será tido como o personagem que cometeu e alterou a cena do
crime. Descoberta em suas mãos, chegarão em mim. Você e eu seremos vítimas dos justiceiros.
Ela é a chave que faltava para esclarecerem um duplo assassinato. Esses nomes são falsos. Escondem um código,
um enigma que decifrados esclarecem os
envolvidos com os assassinatos de um grupo de traficantes.
Certamente
você foi na outra casa. Lá você foi filmado, como
já aconteceu aqui, quando tocou a campainha. Não adianta jogá-la fora ou ir a
polícia. Você já esta comprometido.
—Mas eu não fiz nada!
— Não vão acreditar, mesmo porque não chegaria lá. Não
falo da polícia, falo dos justiceiros. Só eu posso salvá-lo. Você deve
desfazer-se dela logo e muito longe. Eu comando como. Calma, eu tenho o plano,
como já aconteceu com a outra peça.
— Agora farei diferente. Terá uma vida digna e a melhor que merece.
Universidade no Japão, carros e mesadas. A aliança será derretida no Havaí, na
presença do meu segurança e do diplomata Shozi Nishijima. Ele regressará ao
Brasil e será morto em acidente, a chamada queima de arquivo.
E continuou:
—Você é uma testemunha viva. Se absolutamente calado
nada vai lhe acontecer. Você não tem escolha. É aceitar ou aceitar. Vê aqueles
dois homens de preto ali na esquina? De agora em diante passam a ser sua sombra
e seus seguranças. Não retorne à casa que, tenho certeza já visitou. Esqueça
qualquer compromisso. Com o chamado Fred sua sorte esta marcada. Ninguém saberá
do seu sumiço.
A vida de Celso estava sendo
conduzida de tal modo que ele, ainda muito jovem, não era capaz de perceber o que acontecia. Mas, acreditava que
apesar de tudo, estava sendo protegido. Participava de uma grande aventura,
coisa que sempre sonhou. Afinal, carro de luxo, faculdade…
Assistiu à tantos filmes americanos,
alguns com histórias
verídicas e semelhantes ao que estava vivendo. Pensava no menor prejuízo e muito para contar no Brasil. Sua vida da
noite pro dia mudou drasticamente.
Confiava nessa aventura. Seu
medo, já contornado, era do que poderiam
fazer. Embarcaram rumo a Tóquio. Para
sua surpresa a aeronave passou por Tóquio, não desceu, e seguiu, tendo como
ponto final depois de muitas aterrissagens, a Indonésia. Celso estranhou,
contestou. Chamou pelo seu segurança. Mas, ele tinha desaparecido. Quando quis botar
a boca no mundo, foi rodeado por fortes silvícolas que colocaram-no na
carroceria de uma caminhonete. Amarrado por corrente em uma das pernas foi
levado, uma viagem de muitas horas.
Balanceando continuadamente a cabeça, caiu em si, muito tarde. Seu pensamento girava o mundo. Condenava-se. Não acreditava
no que estava acontecendo.
Estrada esburacada de terra. Seu
destino era Papua.
— Você vai conhecer Dani, lhe disseram.
E conheceu.
Ficou aos cuidados de Dani Vilage, o dono do barro preto, o Rei dos
caranguejos.
Gritou, chorou, não adiantou. Tamparam-lhe a boca.
Nas mãos de Dani o Cavendish, já é sabido, não tem volta. Jamais deixará o brejo. Jamais verá a
civilização.
Celso
quando encontrou a aliança e a guardou, guardou também a maldição das lamas de Mastaba.
DEDUÇÃO
“Olhe para si e se cumprires honestamente a distância do seu caminho considere-se feliz“
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